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8.02.2012

Magia da Alice Inicio da Jornada parte 8-2

 As mãos prendiam os seus pulsos como correntes de ferro pesadas, arrastando-a violentamente traz de si, sem lhe proporcionar nem uma oportunidade de fuga. A respiração pesada perdia-se por entre a multidão enquanto eles furavam-na facilmente, caminhando cada vez mais e mais depressa.
 - William, espera! - pediu Alice, tentando abrandar.
 Este apenas abrandou um pouco, sem parar, deixando-a apanhar um pouco de ar fresco. Alice não conseguia ver a sua cara, apenas as costas grandes e tensas que tantas vezes viu durante a sua vida. Deixou-se guiar por entre a multidão que se despedia, com promessas de reencontro e saudades. Não valia a pena tentar chama-lo mais uma vez, pois sabia que, com aquela barulheira toda, ele não a iria ouvir por muito mais que ela gritasse. Mas sentia-se muito ansiosa e, ao começar a reconhecer o lugar por onde passavam, entendeu que já estavam muito perto.
 - Espero que se despachem... - ouviu a voz da Melinda por entre a multidão.
 Como  se tal fosse possível, o passo do William acelerou ainda mais e as correntes tornaram-se mais apertadas, começando a magoa-la ligeiramente. O William estava decididamente ansioso e ela não conseguia entender porque. Ao reaparecerem da multidão, o olhar zangado da Miranda faiscava a medida que esta gritava palavras meio escondidas pela barulheira sobre responsabilidade. Alice não conseguia desviar o seu olhar daqueles olhos, mantendo-se calada o tempo todo, mesmo sabendo que a culpa não era totalmente dela. Para a sua sorte, o sermão foi interrompido e, podendo desviar o olhar, fixou-se nos olhos do pai do William por instantes. Estes eram tristes e frios, bem como cansados e um pouco arrependidos. Mas Alice bem podia estar enganada, não confiando nos seus instintos.
 De repente, os olhares de William e Cain cruzaram-se e o primeiro apertou com muita força a mão que ainda segurava, já com mais delicadeza, sentindo a pele suave e quente da Alice, antes de a soltar, deixando cair as mão enquanto se afastava pesadamente em direção a entrada do dirigível, decidido. A escolha que fizera  era difícil, até mesmo para ele, mas tencionava segui-la até o fim. O verdadeiro problema vinha a seguir, porem, mesmo depois de toda a preparação mental que tinha, nunca poderia adivinhar o quão difícil seria.
Vendo-o afastar-se, Alice não conseguia deixar de sentir-se um bocado assustada pela maneira de como William a puxou e depois largou sem nenhuma palavra. Virando-se na sua direção e decidida a enfrenta-lo, ela começou por dirigir-se na sua direção, mas foi apanhada por Miranda.
 - Espero que isto nunca mais aconteça, minha menina! - afirmou ela.  - Vemo-nos mais tarde.... Tenho que ir tratar de mais algumas coisas.
 O seu sorriso relaxado e alegre animou-a e, ao dar um beijo, deixando-a como pai do William sozinhos. Baixando a cabeça por um bocadinho, Alice sorriu e agradeceu-lhe por tudo, ainda um pouco envergonhada, recebendo em troca um não faz mal e um pequeno sorriso que a impressionou imenso, começando a correr em direção ao dirigível.
 Parecia que quase toda a gente já tinha entrado e, olhando para cima, reparou que o William a fixava serio, até demasiado, demonstrando um ligeiro ódio e desgosto por ela, que nunca tinha visto antes. Regra geral, ele apresentava uma expressão neutra ou trocista, sarcástico e rabugento como um pit-bull irritado, só que naquele momento, tudo isso desapareceu. A ansiedade não era a única emoção que bailava no seu interior, mas passará a ser a mais importante naquele momento.
 Com expectativas de que isso era só sua imaginação, Alice começou a ir na sua direção, demonstrando um sorriso, como se esperasse de que isso iria mudar as coisas, mas enganou-se. Em vez de estar sério, ele estava tenso, resulto, cansado e decidido, tal como o seu pai. Os seus olhos, geralmente quentes e trocista, estavam frios e ferozes, e ele olhava diretamente para a Alice, como se visse uma coisa nojenta e desnecessária. Olhando assustada para o Wiliiam, Alice nem se apercebeu de que toda aquela cena tinha espetadores.
- Conheces-a? - perguntou alguém, não muito longe do sitio onde Alice estava parada.
Voltando para essa direção Alice viu uma rapariga com uns cabelos loiros ligeiramente encaracolados, com uns olhos azuis, um bocado escuros, pequenos mas ferozes, que condiziam com a pele praticamente porcelana. Ela aproximou-se do William, tentando dar-lhe um beijo na bochecha, o qual ele recusou silenciosamente, sem desviar o seu olhar da Alice. A rapariga era praticamente da altura do William e representava uma atitude um pouco superior e arrogante, como se nada valse-se a pena para ela. Vestia uma saia longa turquesa que condizia com a camisola bege e com um sinto verde que ela tinha. Parecia tudo menos uma rapariga normal. Os outros olhavam-na de cima a baixo, avaliando a roupa que usava e a expressão confusa da sua cara.
  Podiam bem ter passados anos ou séculos, mas por fim, os músculos da cara do rapaz contrairam-se num sorriso estranho, um pouco cruel.
- Esta? - perguntou ele,  com uma voz fria e indiferente. - É uma miúda que não me deixa em paz. Só porque vivemos na mesma rua e eu disse-lhe umas palavras, já ficou a pensar que somos amigos. Patético. - disse ele, começando a rir-se logo a seguir seguido pelos amigos. Isso deixou Alice um pouco perturbada, ela não conseguia entender o que estava a passar-se.
- Devia ter adivinhado. - disse um rapaz que estava ao lado dele. Esse era muito mais alto do que o William. Tinha uns cabelos castanhos escuros e uns olhos cinzentos praticamente brancos, o que o tornava um pouco assustador, sendo piorado pelas roupas que ele trazia. Ele vinha com umas calças um pouco gastas e rotas, com um fio de correntes do lado esquerdo dessas. Tinha uma camisola que dizia "Death is is my friend!" sendo tudo escrito com letras que pareciam sangue a escorrer. Para piorar usava duas pulseiras, uma preta com bicos e outra vermelha, na mão esquerda, e uma luva preta na mão direita. - O William nunca andaria com a escumalha dela. Ainda por cima olhem para as roupas dela, parece ter vindo duma venda de garragem, ou como la eles chamem isso.
- Não digas isso, Dex. Isso vai deixa-la magoada, não é William? - perguntou ela, pegando no braço dele e chegando-se a ele mais perto, o que fez com que Alice quisesse dar-lhe um bom pontapé.
- E não é essa a intenção? - perguntou ele, olhando para Alice com uns olhos cheios de ódio.
Até esse momento ela conseguiu aguentar todos os comentários das pessoas que estavam a sua volta, não se deixando abater por elas, mas as palavras do William eram as que estavam a magoar mais.
- Mas que raio passa-se contigo? - perguntou ela, tentando conter o tremor da sua voz.
- Oh... A pobre rapariga não esta a entender nada, pois não? Então deixa-me explicar-te isto! - disse ele, libertando-se do abraço da rapariga e chegando-se mais perto dela. - Eu nunca, mas NUNCA, quero voltar a ver a tua cara, apesar de isso ser impossível já que vamos para a mesma escola. Mas não tentes falar, sorrir, acenar ou mesmo olhar para mim, ou se não, vais te arrepender.
- O que? - perguntou ela, um pouco enervada, porem triste por ouvir aquilo tudo.
- Entende de uma vez por todas, "vizinha"! Eu ODEIO-TE! - disse ele as últimas palavras com a voz mais gélida que conseguia, apesar de não querer dizer isso, mas era necessário, e ele entendia isso.
Chocada, Alice olhou para o chão, completamente a tremer de ódio e de tristeza. Na sua cabeça parecia existir um remoinho de pensamento e de ideias de como se vingar dele, mas em vez disso ele continuou com a cabeça virada para baixo como se estive-se sem vida.
- Vejo que já entendeste a mensagem. - disse ele, virando-lhe as costas. - Vamos pessoal.
Começando a andar, William crispou os punhos com tanta força, que até criaram-se marcas de esforço por controlar o seu ódio por ele mesmo. Ele nunca pensou que teria que utilizar umas palavras assim ainda por cima contra a Alice. Isso magoava-o, mais do que ele poderia ter imaginado.
Dizendo alguma coisa em voz baixa, Alice ainda de cabeça virada para o chão, começou a tremer ainda mais, desta vez dominada pelo ódio. Ouvindo algo ao de longe, mas mesmo assim bem baixo, fez o William parar e virar-se na sua direção, deparando-se com aquilo que ele não queria ver, Alice a chorar. Deste modo, ele teve de se controlar em não ir na sua direção e abraça-la, dizendo que foi só uma piada, William continuou a olha-la e a pensar que tinha de continuar o seu papel. Era o que ele queria, que ela o odiasse.
- Ohhh... Vejam-só, a minha vizinha esta a chorar, Não é hilariante? - perguntou ele, começando por rir-se ainda mais alto.
- Nunca... - disse Alice, ainda em voz baixa. Subindo a sua voz a seguir. - Nunca... Te fiz algo assim. Sempre... Mesmo que me... magoasses... Sempre... Perdoava-te... Pensava.. que.. se tu estivesses ao meu lado... conseguiria ultrapassar tudo... Mas... pelos vistos enganei-me. - disse ela, por entre os soluços.
De cada vez que falava, o seu ódio pelo William parecia crescer e não queria parar, de tal modo que ela não conseguia parar de tremer de tanta raiva. Fixado na cabeça ainda baixada dela, William começou por crispar os pulsos ainda mais fortemente de tal modo que as suas mãos ficaram vermelhas de tanta pressão. A multidão a sua volta dividia-se em dois grupos, uns, considerados como idiotas, estavam a rir daquela cena, adorando cada segundo dela, outros, indiferentes, preocupavam-se mais com o céu nublado que piorava a cada palavra da Alice, obrigando-os a apressar o passo.
- Sempre te perdoei... Nunca quis pensar... que tu... eras... assim... Sempre que podia.. perdoava. - disse ela, crispando os dentes. Como se fosse por magia, William desviou o olhar e fixou-se no céu que desta vez estava escuro e assustador, seguido por um relâmpago que acertou mesmo em cheio num dos postes não muito longe deles.
- Mas que...? - perguntou-se ele, olhando logo em seguida para Alice.
Entendendo que era impossível conter as lágrimas, Alice deixou-se guiar pelo ódio e tristeza que a inundavam, levando assim ao inicio da chuva que tornava-se cada vez mais forte. Com medo, todos começaram por correr para dentro do dirigível, passando pela Alice, ainda com a cabeça para baixo, e pelo William, que parecia-se mais com uma estátua. Passaram alguns minutos até Alice voltar a falar, nem sendo tocada por nenhuma pessoa que lá passou.
- Sabes... Agora... Já nem importa... Podes fazer.. O que... quiseres... A tua... vizinha irritante... não te vai... irritar mais... Ela vai.. desaparecer... tal como sempre sonhaste...
- Alice, ouve... - disse ele, com a mão estendida, como se queise-se acalma-la, dando um passo a frente.
- Não quero ouvir. - gritou ela. O som da sua voz foi seguido por um relâmpago intenso aos pés dele, que brilhou ameaçadoramente durante uns segundos, desaparecendo na chuva. - Eu entendi... muito bem.. o que tu querias. Queres que eu não fale?... Não falo... Queres que não olhe?... Não vou olhar... Não vou fazer nada... Vou ignorar-te... como se fosses uma pessoa que não... existe... Como se fosses.. um verme... como eu pareço que sou...
- Alice, não é isso...
- Ai não? - ela gritou, levantando a cabeça para ele. Os seus olhos, fixos nos do William e cheios de lágrimas, estavam já a ficar vermelhos. - Sempre que eu te perdoei tu voltavas a fazer das tuas. Sempre que tu me magoavas, vezes e vezes sem conta, eu voltava para ti como um cachorrinho que tinha um dono. Sempre.... Sempre considerei-te um amigo! - gritou ela, baixando outra vez a sua cabeça. - Mas tu nunca me consideraste assim. Sempre fui uma coisa de que tu nunca necessitaste. E isso eu entendi hoje, com as tuas palavras e estou grata por isso, porque finalmente entendi como me sinto em relação a ti. - disse ela, levantando a sua cabeça e começando a andar na sua direção, ficando ombro ao ombro com o William. Com as lágrimas ainda a escorrer, Alice pronunciou as palavras que nunca pensou dizer. - Odeio-te!- disse começando logo a correr.
Chocado, e sem saber o que fazer, William permaneceu no seu lugar, crispando ainda mais os punhos até que começaram a sangrar. Torcendo a mão de dor, William desprendeu o punho e olhou para a mão ensanguentada por sim mesmo.
- Pelos vistos, mereço.-disse ele, com uma expressão triste e preocupada, levando a mão a boca.
Ouvindo o apito do dirigível, Willaim virou-se na direção desse, e começou a andar para  dentro com as palavra "Adeus, Alice!" a esvoaçar a sua cabeça.


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