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5.21.2012

Magia da Alice: Inicio da Jornada parte 7-4


 Os minutos pareciam segundos enquanto Alice e William, sentados no banco de traz do carro dos Cold, esperavam para chegar ao seu destino no completo silencio, sem se atreverem a quebra-lo com assuntos banais e pouco importantes, devido ao ambiente que se tinha instalado depois da partida da Alice. A rapariga ainda chorou durante uns minutos, tentando controlar-se sem qualquer êxito aparente, pois conseguia sentir o olhar preocupada do William e do seu pai. É claro que após alguns minutos consegui parar de chorar e fungar, pedindo desculpas pelo sucedido. O problema é que depois disso nenhum dos dois homens presentes no caro sabia do que devia ou não devia falar, com medo de levar a mais um episódio de lágrimas. Parecia que tudo o que tinham para dizer ou perguntar tinha algo relacionado com os pais da Alice, o que provocava um medo enorme nos dois. Nenhum deles era fá de lágrimas, especialmente o William, que detestava vê-la chorar, não importa a razão.
 Olhando para fora do carro, Alice também não tinha nenhum tema de conversa. Ainda sentia-se um pouco intimidada pelo pai do seu amigo, mesmo depois de este deixar bem claro que não tinha nada contra ela e que até não se importava de lhe falar. Tinha que agradecer a insistência da Melinda em Alice ir apenas com o William e com o seu pai, pois não conseguiria aguentar mais uma viagem com a mãe dele, que parecia odiá-la desde o primeiro momento em que a viu. Suspirando baixinho e sem nada para fazer, Alice tomou atenção ao carro. Não sabia de que marca era, pois o seu conhecimento limitava-se ao saber distinguir um camião de um carro. Não entendia nada de marcas nem de modelos, o que até era compreensível dado ao facto de passar a maior parte do seu tempo com o William e de ele não mostrar nenhum interesse pelos carros. Era evidente que ele devia saber mais que ela. "Deve ser uma coisa do ADN que as raparigas não têm..." pensou, sorrindo um pouco. Apesar da cor predominante do carro ser preto, Alice achava-o reconfortante e confortável, pelo modo como as tonalidades do preto e branco eram agregadas. Os bancos eram novos, ou pelo menos pareciam ser, pois ela não se lembrava da ultima vez que tinha visto esse carro. "O George deve saber..." pensou, sorrindo um pouco, algo que não passou despercebido aos seus acompanhantes.
 Tentando aliviar o ar, o pai do William ligou  o rádio, mas na estação errada. Naquele dia o assunto principal era o alcoolismo entre os jovens, o que incluía o seu filho e a sua amiga. Ainda tentou mudar a estação mas as outras apenas transmitiam política, algo que qualquer um detestava. Desligando o rádio rapidamente, ele olhou pelo retrovisor, dando de caras com o William que o observava irritado, incentivando-o a falar, nem que seja um bocadinho.
 - Então... - iniciou, com uma voz um pouco rouca - Como é que ia a escola? Deves saber que apesar de teres lições mágicas ainda vais ter as lições normais de Inglês e Matemática, certo?
 - Sim. - respondeu Alice, aliviada. - A Melinda explicou-me tudo. Acho que não vou ter problemas. Já estive a ver a matéria de Matemática e devo dizer que estou um pouco desapontada com o programa. Aposto que o William também está. Eles incluíram as funções básicas, o que acho um grande erro.
William, sorrindo, acrescentou.
 - Pois. E já viste o de Ciência? Vamos falar do alcoolismo este ano. Não é hilariante?
 Rindo, Alice respondeu-lhe, acrescentando termos já mais especificas da área de medicina que o condutor não conhecia nem nunca tinha ouvido falar de tal coisa, falando acerca da irresponsabilidade dos produtores em fornecer tal bebida. O mais estranho era o facto do William compreender mesmo do que ela estava a falar, apesar de toda a complexidade adjacente ao assunto. Pelo que se lembrava, eles os dois fizeram um trabalho sobre o alcoolismo mas Cain nunca chegou a saber a nota dele, pois não tinha tempo para se preocupar com as notas do filho. No mundo mágico isso não interessava. Tudo o que contava era o poder e a inteligência que tinham e o potencial de poder atingir algo. O resto, como as notas ou a educação, não era importante.
Olhando para a estrada, o Cain tentou abstrair-se da conversa que se desenrolava no banco de trás, que já tinha deixado a área da medicina e ia deslizando para a Física e Química, como se os dois assuntos estivesses interligados. "O que as crianças sabem é horrível.." pensou, olhando para as horas. Faltavam menos de minutos para chegarem ao seu destino, que era o parque municipal localizado cerca de 40 km da cidade, um pouco isolado. Era um parque adorável, com bonitas árvores verdes e belos campos floridos de todas as cores, e imensos animas pequenos. A viagem era longa pelo que pouca gente visitava o parque nos dias úteis, sendo que aos fins de semana estava sempre recheado de gente, especialmente durante o Verão, em que as sombras das árvores eram o perfeito esconderijo para o escaldante sol que queimava tudo a sua volta. Talvez o parque até não fosse nada especial comparado com os grandes parques das capitais, que atraiam milhares de clientes todos os anos, mas mesmo assim era algo especial para os habitantes das pequenas cidades nas redondezas, admirando-o e cuidando dele sempre que podiam, reunindo-se em pequenos grupos, limpando o lixo e aparando a relva.
 Na verdade, era impossível saber como os trinta minutos e poucos passaram tão rapidamente, mas em menos tempo do que qualquer um dos viajantes esperava, chegaram ao seu destino. A rapariga ainda não sabia o que iam fazer ao parque. Era tudo demasiado estranho para o seu gosto, só que o William parecia saber muito bem onde iam, por isso não revelou as suas preocupações, saindo do carro preto logo que este foi estacionado. Deixou que o pai do William pegasse nas suas malas, que, apesar de parecerem muitas, até eram menos do que a sua mãe queria que levasse. Segundo o que a Miranda tinha dito, não necessitava de levar muita roupa pois poderia comprar lá no caso de necessitar, aconselhando-a apenas a levar alguns objetos de higiene pessoal como a escova de dentes e de cabelo. Assim, acabou com apenas uma mala grande cheia de livros e meia dúzia de peças de vestuário, incluindo dois vestidos que a Lily a obrigara a levar a força, ignorando os seus protestos ferozes como se não fossem nada, levando a que esta desista da discussão. Até se sentia mais confortável com aquela decisão, pois não poderia saber se chegaria a necessitar deles para alguma coisa. O suspiro longo e profundo despertou a atenção ligeira do William, mas esta ignorou-o, olhando a volta na tentativa de descobrir a onde iam. Pela cara que ele fazia, não devia ser assim tão longe, contudo, ela não conseguia descobrir nada, o que só servia para o animar ainda mais.
 Avisando que era pelo pequeno caminho de areia, Cain iniciou a caminhada, com as malas dos dois na mão, levando-as como se estas não fossem nada. Alice já tinha estado naquele lugar um milhar de vezes, visto que ia acampar por vezes a floresta gigantesca que rodeava o parque, recolhendo muitas vezes cogumelos e flores de todos os gostos.Bem, era agradável voltar ao parque antes da partida, porém ela continuava sem entender o que la faziam. Não importa onde ela olhasse, via árvores e mais árvores, todas densas e verdes, ainda a viverem o verão. O fresco das folhas saltava a vista e o cheiro delicioso a pinhas ajudava-a a acalmar, pois tudo era tão familiar como se fosse a sua própria casa, o seu lar. Ao fechar os olhos deliciando-se com a harmonia fresca, não conseguiu evitar de sorrir. Pois, era ao pé das árvores o seu lugar, na Natureza, tal como sempre tinha sonhado.
 O denso das folhas foi diminuindo gradualmente, dando lugar aos intensos raios de luz solar que penetravam entre estas, mostrando o caminho. "Espero bem que estejamos a chegar.." pensou, dando um passo para fora do arvoredo, sendo segada pela luz intensa, parando rapidamente ao ouvir um som alto e inesperado. O choque e a falta de visão apenas servia para a confundir ainda mais. A mão dirigiu-se automaticamente para a cara, tentando proteger-se da repente luminosidade, sem qualquer sucesso. Parecia que a luz, tal como os sons, não eram reais... mas tal não podia ser. Não era lógico, não era normal.. Mas... É claro! Como poderia ter-se esquecido? Afinal de contas... Existia a magia.
 Uma mão gelada pegou na sua, puxando-a gentilmente para a frente, onde a luz já não batia com tanta força. Na verdade, esta tinha desaparecido, mas o barulho ainda continuava lá.
 - Já chegamos. - uma voz disse.
 Ao abrir os olhos, pela segunda vez no mesmo dia, Alice não conseguia deixar de se sentir maravilhada. Era mesmo verdade. A magia existia e ela fazia parte desse mundo.


5.01.2012

Magia Da Alice: Inicio da Jornada parte 7-3

 O dia veio de repente, interrompendo a calma aparente que se instalou devagar nas ruas de Headom Street durante a noite escura e fria do fim de Verão. Mesmo antes dos gatos, os habitantes da casa 28 já estavam de pé, atarefados com as tarefas que tinham pela frente. O movimento na casa era tão grande que nem mesmo os pássaros conseguiam dormir sossegados, acordando antes do tempo à piar constantemente em sinal de protesto. Mas os habitantes, cansados de ter acordado cedo, nem lhes prestavam atenção, despachando o trabalho que tinham pela frente.
 Ainda não eram seis horas que a Lily acordou toda a gente da casa, gritando que tinham que se despachar e preparar as coisas, pois o seu marido tinha uma viagem programada para as oito horas e a Alice era suposto partir mais ou menos a mesma hora, já que tinha de apanhar o transporte para a escola as nove horas em ponto, sem poder atrasar-se nem por um segundo. Como combinado, o William e os seus pais iriam busca-la as oito e meia, para ter margem de manobra no caso de algo acontecer, apesar de a sua mãe não aprovar essa possibilidade.
 Alice estava responsável por arrumar a sua mala, mas Lily interrompia-a sempre que achava necessário para ter a certeza de que ela não se esquecia de nada, o que tornava-se extremamente irritante. Mas para Alice isso até foi uma grande ajuda, pois se não fosse a mãe, ela teria provavelmente esquecido a maioria das coisas. Lily também estava a supervisionar a trabalho do Bill, que igualmente arrumava as suas malas, caladinho para não levar um raspanete.
Apesar de todo o barulho que havia em casa,o George continuava a dormir que nem um morto, irritando a mãe dele, que já o tinha acordado várias vezes para vestir-se. Mas como nada resultava, ela teve de pensar numa outra maneira de o acordar que o barulho excessivo.
 - Se tu não te levantas agora mesmo, nada de pequeno almoço para ti! - avisou Lily, entrando no quarto.
 O resultado foi instantâneo. Como um gato assustado, George levantou-se de repente, olhando-a suplicante.
- Tudo menos isso! - disse ele, praticamente de joelhos.
- Então mexe-te! - avisou ela, saindo do quarto mais uma vez.
Alice, que passava pelo quarto por acaso, ao ver este episódio começou a rir-se com vontade.
- Ei... Isso não tem piada. - declarou ele, saindo do quarto com uma t-shirt na mão e com o tronco nu.
- É claro que não. É só totalmente hilariante. - contradisse-o, rindo-se ainda mais.
- Tu vais.... - começou George, indo na direção da Alice.
- George vai vestir-te. Alice acaba de fazer as tuas malas! - gritou Lily do andar de baixo.
Com o George a meio caminho e Alice a rir-se fortemente, os dois desataram a rir ainda mais, obrigando a Lily a subir para ralhar com eles, algo que nenhum dois dois apreciou.
 As oito horas, tanto Bill como Alice, cansados depois daquilo tudo,  e já com as suas malas feitas, descansavam na sala enquanto esperavam pelo pequeno almoço, pensando no terror que a Lily parecia. Na opinião dos dois, Lily foi sempre um pouco acelerada, mas esse dia foi uma exceção, pois com os nervos em franja por causa da Alice e do seu marido, era impossível aguentar ficar na mesma sala que ela por mais do que dois minutos, sem querer sair dali a correr. Ou eram as roupas que não estavam bem arrumadas, ou era o cabelo que não estava devidamente escovado ou a roupa não era apropriada... Era tudo.
 Mas a pessoa que estava mais agitada que a Lily era a Alice. Apesar de não o reconhecer, ela não conseguia deixar de pensar no que iria acontecer a seguir. Sabendo que ninguém iria acreditar que Alice tinha poderes mágicos, os pais da Alice, em particular Bill, arranjou uma história dizendo que Alice ia estudar para fora do país, como se fosse um pedido da avo dela, que a adorava, no puro sentido da palavra.
A rapariga já estava farta dos telefonemas da prima a chamar-lhe anormal por causa do que tinha acontecido na festa, por isso, apesar de saber que a desculpa só servia para aumentar a inveja irracional que a prima tinha dela, decidiu fazer tal como eles disseram, contando mentiras sobre uma escola inexistente no meio do nada.
 "A mãe sabe mesmo como manter a calma..." queixou-se ela enquanto voltava a arrumar a mala mais uma vez, depois da sua mãe ter refilado que as roupas estavam mal dobradas.
Pelo que Miranda contou as roupas da escola seriam atribuídas no dia da cerimonia de chegada, o que era um mistério até para o William. Só que depois de todas as explicações que ela ouviu da Miranda e do William, Alice ainda não tinha recebido a resposta para a pergunta mais importante que tinha e que a assombrava desde momento em que soube que iria para tal escola. Onde é que a escola encontrava-se e como ia lá chegar.
 Olhando pela janela mais uma vez, ela não pode deixar de sentir-se feliz depois daquilo tudo. Ela iria para a mesma escola que William, podendo estar perto dele, e não como uma amiga e uma rapariga normal que ele ignorava a cada instante que podia, só para depois pedir-lhe desculpa por ter ferido os seus sentimentos, mas sim alguém que era como ele.
Agora que pensava melhor no assunto, ela não conseguia encontrar uma solução para as reações dele em relação ao facto de ela sempre o desculpar, não importa o que ele  lhe fazia. Lembrava-se claramente de todos os dias em que ele lhe feriu os sentimentos, dizendo coisas insensíveis e destruindo os seus brinquedos, só que não conseguia odiá-lo não importa quanto tentasse, perdoando-lhe sempre tudo.
Mas os seus pensamentos nunca se concluíram, pois Lily entrou no quarto como uma fera a procura da sua presa, furiosa por sua filha ainda não ter descido para tomar o pequeno almoço. As vezes, os pais conseguiam ser muito injustos e, na opinião da Alice, aquele era um daqueles dias em que tudo o que tentava fazer ia para o torto. Desde que acordará que estava a ter um mau pressentimento, mas não tinha coragem para dizer nada aos pais, receando que eles tomem alguma medida e a levem a serio.
Descendo as escadas e sentando-se a frente do seu prato, Alice devorou o pequeno-almoço com uma velocidade impressionante, até mesmo para o George, que a olhava do outro lado da mesa, um pouco chateado por ter acordado tão cedo para nada, só para ouvir a sua mãe reclamar sobre tudo e mais alguma coisa. Na verdade, ele apenas queria despedir-se da sua irmã mas parecia que até aquele pequeno gesto era impossível naquela manhã.
 A campainha tocou as oito e trinta em ponto, fazendo com que todos em casa dessem um salto de espanto. Desde que o pequeno-almoço acabou, dez minutos mais cedo, todos foram tratar dos últimos pormenores com o máximo de cuidado possível, tentando não fazer nenhum barulho. Até o George, que era conhecido por toda a cidade como o miúdo mais preguiçoso do mundo, foi aparar a relva só para não ter que sentir a tensão instalada na casa. Descendo rapidamente, Alice abriu a porta, dando caras com o William que a esperava mal educado.
 - Temos que ir ou chegamos atrasados. - avisou, afastando-se no momento em que os pais da rapariga desceram com a sua mala.
 - Promete que tomas cuidado e escreve todas as semanas, esta bem? - perguntou Lily,com lágrimas a aparecer nos seus olhos castanhos-avelã.
 - Não me digam que vão chorar? Não se preocupem. Não vai acontecer nada comigo.
- Ai.. Vem cá. - disse Lily, agarrando-a e puxando-a para os seus braços.
- Mãe... Eu vou ficar bem. - disse ela, controlando-se para não chorar também, o que em ela era praticamente impossível.
 A Lily sorria um pouco, apesar de ter lágrimas a escorrer lhe pela cara, silenciosamente, Nunca tinha pensado que iria chegar um dia em que teria de se despedir da sua filha. Abraçando-a gentilmente, sussurrou algumas palavras de afeto e encorajamento. Sabia que as coisas iriam ser difíceis para ela. Assim foram para Kate, que as vezes voltava da escola muito chateada e irritada, afirmando que nunca mais iria voltar para lá. Largando-a, e limpando as lágrimas dos olhos, Lily olhava para a Alice com a mesma cara com a qual olhou para Kate quando ela se ia embora, como se nunca a voltasse a ver.
Abraçando o pai, e dando-lhe um beijo, Alice dirigiu-se para o seu irmão, devagar e sorrindo, apesar de as lágrimas começarem a escorrer lhe pelos olhos.
 - Então maluca - afirmou George, sorrindo, mas também quase a chorar. - Não te esqueças de me trazer uma lembrança. Tenho a certeza que têm lá muitas coisas bem fixes que não precisem. - disse ele, tentando fazer com que aquilo não parecesse assim tão mau como era.
- Idiota. - declarou ela, e lanço-se aos braços do seu irmão. - Vou ter saudades tuas, George. - disse, sentindo já as lágrimas a escorrer.
Surpreendido, George parou de se controlar e abraçou Alice também, deixando umas lágrimas escorrer pelo rosto.
- Também eu maninha. Também eu.
Largando ao George, Alice virou-se para toda a família e disse um último adeus, antes de ir atrás do William na direção do carro, que começou a andar logo que ela fechou a  porta. Não conseguindo aguentar, Alice olhou para traz, mesmo a tempo de ver a sua mãe a correr atrás do carro.
Para Lily aquilo era como um pressentimento de tudo aquilo que ela tinha mais medo. Kate desapareceu deixando a Alice, para ela passar a ser sua filha sem mais explicações. E agora, a sua pequena menina ia voltar para o mundo dela, tal como devia ser. Mas o que ela mais receava era o que esperava a Alice nesse mundo.
 Alice não prometeu nada a mãe e talvez essa fosse a melhor opção, visto que nenhuma delas estava a espera do o destino lhe tinha reservado.