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8.16.2012

Magia da Alice: Inicio da Jornada parte 9-1

A Barreira

   O dirigível, que era enorme de fora, parecia infinito por dentro. Os corredores vermelhos estendiam-se sem fim, dividindo-se em vários compartimentos, com um tapete bege claro a  estender-se no chão de madeira escura.  Era um tapete simples, sem nenhum tipo de padrão nem formas, porém ao toque era tão suave como uma pena, envolvendo cuidadosamente as sandálias abertas da Alice que percorria os corredores sem sentido aparente, olhando em frente e sem modificar a sua expressão, ao mesmo tempo triste e zangada, tentando manter as suas lágrimas, que ainda escoriam lentamente pelo rosto dela e brilhavam ao receber a luz vinda de candeeiros de parede luxuosos, sob controlo, prometendo a sim mesma de nunca mais chorar por causa dele, qualquer que seja a razão. Para ela, naquele momento, ele não valia nada e ela não tinha nenhuma intenção de sequer pensar nele. Afinal de contas, qual a possibilidade de ela encontra-lo na escola no meio de tanta gente? Nenhuma.
   Percorrendo, aquilo que parecia, metade do dirigível, Alice decidiu parar e encontrar um compartimento onde  pudesse ficar sem ser incomodada por ninguém, especialmente pelo William.   As vozes alegres e altas dos outros passageiros ouviam-se a cada passo que Alice dava. Parecia como se todos os compartimentos estivessem ocupado. As vezes parecia que não havia ninguém, mas cada vez que ela abria a porta encontrava coisas que nunca tinha visto como plantas gigantes que se roçavam contra o dono, morcegos que comiam pedras, ou mesmo um miúdo que mandou uma bomba de mão cheiro no seu compartimento, correndo para fora dali de seguida. Percorrendo mais uma metade to dirigível, Alice achou que nunca mais iria encontrar um lugar. Até os seus pés já não funcionavam devidamente, devido ao cansaço. Olhando a sua volta, percebeu que não havia ninguém por perto. Estava tudo tão calmo como num cemitério, sem um único barulho.  Achando que talvez tivesse encontrado um sitio para si, ela aproximou-se duma das portas. Foi então que reparou nelas. Antes ela abria as  sem olhar nem por um segundo. Essa porta era madeira, tendo uma tonalidade vermelho escura, quase preta. Tinha quase 2 metros de altura com uma maçaneta dourada ornamentada com um desenho a prateado que parecia um unicórnio... Não era muito larga, pelo que Alice considerou que o compartimento era pequeno ,tendo dois sofás de cada lado da parede. Abrindo a porta e não vendo ninguém lá dentro, Alice suspirou de alivio, porém, quando fixou o que estava lá dentro, fechou logo a porta..
-    Mas que.... - ela começou por dizer, mas parou, afastando da porta. 
   Aproximando-se outra vez da porta, Alice estava a tremer enquanto tentava ganhar coragem para a abri-la. "Havia lá um sofá gigante, isso foi sem duvida, e... e uma mesa redonda? Mas..  a porta é tão pequena!" pensou ela analisando a porta. Por fim, ganhando coragem, ela abriu a porta e entrou la sem acreditar no que via.
    Do outro lado da porta estendia-se um enorme quarto arredondado vermelho, com uma pequena janela redonda que estava aberta um pouco, deixando entrar o ar fresco deixado pela chuva. O sofá bege contornava as três paredes numa forma de semi-circulo, parecendo tão confortáveis como as almofadas de penas que estavam em cima deste, convidando a sentar-se nele. No centro, em cima do tapete bege, uma mesa pequena de vidro e madeira clara parecia encaixar perfeitamente no pequeno espaço que sobrava para os pés dos passageiros. “Não pode ser. Não é real...” pensou ela, respirando fundo, olhando de relance para fora do compartimento. Apesar de tudo que tinha imaginado acerca da magia, acreditava que aquilo que via era impossível. Pura simplesmente não poderia existir. Um quarto enorme e uma entrada pequena, onde isso já tinha-se visto?  Decididamente perder a cabeça não era uma boa opção, logo, não lhe sobrava mais nenhuma alternativa que verificar mais uma vez.
Entrando devagarinho, admirou-se com o trabalho realizado pelos arquitetos na parede, se foram eles sequer que lá trabalharam. Ao longo da parede, que podia parecer lisa, sobressaiam pequenos traços sem sentido preenchendo a parede de cima a baixo, criando padrões visuais muito bonitos com linhas entrelaças a torto e a direito, tendo mesmo assim um sentido próprio. Apetecia-lhe toca-los, porém algo desviou a sua atenção, obrigando-a a voltar-se para traz um pouco espantada.
 -   Ol...a... - afirmou alguém depois de ter sido apanhado a tentar entrar sem aviso.
 -   Eu bem te avisei! – soou uma voz feminina muito perto.
   O estranho parou perto da porta, sorrindo. Era o mesmo rapaz que lhe tinha ajudado antes, por outras palavras, o que a tinha derrubado com a sua mala. Alice ainda não entendia como tal poderia ter acontecido, mas o que tinha chamado a sua atenção não fora apenas ele. Perto dele duas raparigas olhavam-na, tão distintas uma da outra o quão possível, apesar de uma se parecer com o rapaz.
 - Importas-te que entremos? – tentou desta vez perguntar visivelmente pouco a vontade por ter sido apanhado.
- Não... Não me importo! - disse ela, rindo-se um pouco, pois achava situação um bocadinho estúpida já que o quarto não era dela.
- Excelente! - exclamou o rapaz,  passando ao pé dela e instalando-se não muito longe da janela.
  As outras duas, sem dizer uma única palavra sentaram-se uma em cada ponta do sofá, olhando-a um pouco de lado.
Espantada por causa disso, Alice apressou-se a passar ao lado duma das raparigas e sentar-se ao pe da janela. Depois de ela se instalar bem no seu canto, um longo momento de silencio instalou-se na sala, incomodando a todos um pouco. De relance, ela olhou para o resto dos companheiros, cada um fazia o que queria. Mas o que chamou a sua atenção foi o olhar intenso do rapaz que a observava sorridente.
-  Desculpa... Mas, podias para de me olhar assim? - perguntou Alice um pouco incomodada.
 - Ah... desculpa. Não te queria incomodar. Só que não podia acreditar que te encontrei cá. Tal como tinha dito antes, o meu nome é Jake, prazer. – ele disse, sorrindo. – Não cheguei a perguntar o teu nome, pois foste arrastada por alguém... quem era, o teu namorado?
  - Jake comporta-te – ralhou a rapariga de cabelo castanho que se encontrava mais chegada a ele.
    Era incrivelmente parecida como ele, até mesmo a cor dos olhos, mas a sua expressão era muito mais séria e adulta que a do outro. Deviam ser irmãos, porem a irmã não perecia ter muito afeto a ele.
 - Sou Jane. – continuou, reparando no olhar espantado da Alice. – Somos gémeos, como já podias ter avinhado. Não que me orgulhe disso...
    A ultima parte veio tão baixinho que quase ninguém ouviu, expecto o irmão que apenas riu um pouco.
-  Prazer em conhece-los. – acrescentou a ultima rapariga, entrando na conversa rapidamente. – O meu nome é Irene e espero ficar na mesma turma que vocês. Parecem muito simpáticos.
    Ao contrario dos gémeos que pareciam muito humanos, ela era tudo menos isso. Os seus olhos pretos pareciam carvão, com a única diferença que brilhavam ligeiramente com um tom avermelhado. A pele clara quase branca, realçava os contornos delicados da cara e do cabelo  escuro que vinha apanhado num rabo de cavalo. As roupas que vestia eram justas apertando a cintura e as ancas, realçando os belos contornos do seu corpo. Parecia mesmo uma boneca de porcelana com uma voz de mel que soava magnificamente aos seus ouvidos.
 -  Eu sou Alice. – apresentou-se por fim com um pequeno sorriso.
    Todos pareciam incrivelmente simpáticos, pelo que achou seguro relaxar perto deles. O incidente com o Cold já tinha sido esquecido e guardado na caixinha negra. Alem disso, as probabilidades de se encontrar com ele na escola que, segundo o que estava a ouvir dos seus companheiros era enorme, eram quase nulas, assim não valia a pena preocupar-se com os problemas passados. O passado era passado, presente o presente, e Alice vivia no presente.

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