A Barreira
Percorrendo, aquilo que parecia, metade do dirigível, Alice decidiu parar e encontrar um compartimento onde pudesse ficar sem ser incomodada por ninguém, especialmente pelo William. As vozes alegres e altas dos outros passageiros ouviam-se a cada passo que Alice dava. Parecia como se todos os compartimentos estivessem ocupado. As vezes parecia que não havia ninguém, mas cada vez que ela abria a porta encontrava coisas que nunca tinha visto como plantas gigantes que se roçavam contra o dono, morcegos que comiam pedras, ou mesmo um miúdo que mandou uma bomba de mão cheiro no seu compartimento, correndo para fora dali de seguida. Percorrendo mais uma metade to dirigível, Alice achou que nunca mais iria encontrar um lugar. Até os seus pés já não funcionavam devidamente, devido ao cansaço. Olhando a sua volta, percebeu que não havia ninguém por perto. Estava tudo tão calmo como num cemitério, sem um único barulho. Achando que talvez tivesse encontrado um sitio para si, ela aproximou-se duma das portas. Foi então que reparou nelas. Antes ela abria as sem olhar nem por um segundo. Essa porta era madeira, tendo uma tonalidade vermelho escura, quase preta. Tinha quase 2 metros de altura com uma maçaneta dourada ornamentada com um desenho a prateado que parecia um unicórnio... Não era muito larga, pelo que Alice considerou que o compartimento era pequeno ,tendo dois sofás de cada lado da parede. Abrindo a porta e não vendo ninguém lá dentro, Alice suspirou de alivio, porém, quando fixou o que estava lá dentro, fechou logo a porta..
- Mas que.... - ela começou por dizer, mas parou, afastando da porta.
Aproximando-se outra vez da porta, Alice estava a tremer enquanto tentava ganhar coragem para a abri-la. "Havia lá um sofá gigante, isso foi sem duvida, e... e uma mesa redonda? Mas.. a porta é tão pequena!" pensou ela analisando a porta. Por fim, ganhando coragem, ela abriu a porta e entrou la sem acreditar no que via.
Do outro lado da porta estendia-se um enorme quarto arredondado vermelho, com
uma pequena janela redonda que estava aberta um pouco, deixando entrar o ar
fresco deixado pela chuva. O sofá bege contornava as três paredes numa forma de
semi-circulo, parecendo tão confortáveis como as almofadas de penas que estavam
em cima deste, convidando a sentar-se nele. No centro, em cima do tapete bege,
uma mesa pequena de vidro e madeira clara parecia encaixar perfeitamente no
pequeno espaço que sobrava para os pés dos passageiros. “Não pode ser. Não é
real...” pensou ela, respirando fundo, olhando de relance para fora do
compartimento. Apesar de tudo que tinha imaginado acerca da magia, acreditava
que aquilo que via era impossível. Pura simplesmente não poderia existir. Um
quarto enorme e uma entrada pequena, onde isso já tinha-se visto?
Decididamente perder a cabeça não era uma boa opção, logo, não lhe sobrava mais
nenhuma alternativa que verificar mais uma vez.
Entrando
devagarinho, admirou-se com o trabalho realizado pelos arquitetos na parede,
se foram eles sequer que lá trabalharam. Ao longo da parede, que podia parecer
lisa, sobressaiam pequenos traços sem sentido preenchendo a parede de cima a
baixo, criando padrões visuais muito bonitos com linhas entrelaças a torto e a direito, tendo mesmo assim um sentido próprio. Apetecia-lhe toca-los, porém
algo desviou a sua atenção, obrigando-a a voltar-se para traz um pouco
espantada.
-
Ol...a... - afirmou alguém depois de ter sido apanhado a tentar entrar sem
aviso.
-
Eu bem te avisei! – soou uma voz feminina muito perto.
O
estranho parou perto da porta, sorrindo. Era o mesmo rapaz que lhe tinha
ajudado antes, por outras palavras, o que a tinha derrubado com a sua mala.
Alice ainda não entendia como tal poderia ter acontecido, mas o que tinha
chamado a sua atenção não fora apenas ele. Perto dele duas raparigas
olhavam-na, tão distintas uma da outra o quão possível, apesar de uma se
parecer com o rapaz.
- Importas-te que entremos? – tentou desta vez perguntar visivelmente pouco a
vontade por ter sido apanhado.
-
Não... Não me importo! - disse ela, rindo-se um pouco, pois achava situação um
bocadinho estúpida já que o quarto não era dela.
- Excelente! - exclamou o rapaz, passando ao pé dela e instalando-se não
muito longe da janela.
As outras duas, sem dizer uma única palavra sentaram-se uma em cada ponta do sofá, olhando-a um pouco de lado.
Espantada
por causa disso, Alice apressou-se a passar ao lado duma das raparigas e
sentar-se ao pe da janela. Depois de ela se instalar bem no seu canto, um longo
momento de silencio instalou-se na sala, incomodando a todos um pouco. De
relance, ela olhou para o resto dos companheiros, cada um fazia o que queria.
Mas o que chamou a sua atenção foi o olhar intenso do rapaz que a observava
sorridente.
-
Desculpa... Mas, podias para de me olhar assim? - perguntou Alice um pouco
incomodada.
-
Ah... desculpa. Não te queria incomodar. Só que não podia acreditar que te
encontrei cá. Tal como tinha dito antes, o meu nome é Jake, prazer. – ele
disse, sorrindo. – Não cheguei a perguntar o teu nome, pois foste arrastada por alguém... quem era, o teu namorado?
- Jake comporta-te – ralhou a rapariga de cabelo castanho que se encontrava
mais chegada a ele.
Era
incrivelmente parecida como ele, até mesmo a cor dos olhos, mas a sua expressão
era muito mais séria e adulta que a do outro. Deviam ser irmãos, porem a irmã
não perecia ter muito afeto a ele.
-
Sou Jane. – continuou, reparando no olhar espantado da Alice. – Somos gémeos,
como já podias ter avinhado. Não que me orgulhe disso...
A
ultima parte veio tão baixinho que quase ninguém ouviu, expecto o irmão que
apenas riu um pouco.
-
Prazer em conhece-los. – acrescentou a ultima rapariga, entrando na conversa
rapidamente. – O meu nome é Irene e espero ficar na mesma turma que vocês.
Parecem muito simpáticos.
Ao
contrario dos gémeos que pareciam muito humanos, ela era tudo menos isso. Os
seus olhos pretos pareciam carvão, com a única diferença que brilhavam
ligeiramente com um tom avermelhado. A pele clara quase branca, realçava os
contornos delicados da cara e do cabelo escuro que vinha apanhado num
rabo de cavalo. As roupas que vestia eram justas apertando a cintura e as
ancas, realçando os belos contornos do seu corpo. Parecia mesmo uma boneca de
porcelana com uma voz de mel que soava magnificamente aos seus ouvidos.
-
Eu sou Alice. – apresentou-se por fim com um pequeno sorriso.
Todos
pareciam incrivelmente simpáticos, pelo que achou seguro relaxar perto deles. O
incidente com o Cold já tinha sido esquecido e guardado na caixinha negra. Alem
disso, as probabilidades de se encontrar com ele na escola que, segundo o que
estava a ouvir dos seus companheiros era enorme, eram quase nulas, assim não
valia a pena preocupar-se com os problemas passados. O passado era passado,
presente o presente, e Alice vivia no presente.
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