Novos começos (o nome pode mudar)
Pessoas, pessoas e mais pessoas, era tudo o que Alice conseguia ver ao olhar para o cenário que se formava a sua frente. O verde da relva não se destingia por entre a multidão colorida, que caminhava de um lado para outro, conversando alegremente. Pessoas de todas as cores e estaturas passeavam pelo parque, como se viessem de várias partes do mundo. Ela queria perguntar ao William o que se estava a passar, mas este já se encontrava longe demais para ouvi-la, pelo que teve que se despachar a segui-lo, com medo de o perder por entre a multidão. Não conseguia deixar de olhar para todos, sorridente, mesmo sabendo que algumas pessoas não lhe iriam achar graça nenhuma. Apenas não conseguia desviar o olhar. As conversas chegavam aos seus ouvidos como uma melodia, repletas de magia própria.
Olhando a volta, Alice quase não se perdeu no meio daquela multidão toda. Parando para encontrar o William, começou a entrar em panico pois não conseguia ver ninguém. Nem o William nem o pai dele. Foi graças ao William, que, vindo sabe-se la de onde, é que ela consegui sair daquela confusão toda. Agarrando a sua mão, William arrastou-a atrás de si, para ela não se perder outra vez. Conseguia sentir a irritação dele, não podendo, fazer nada para o acalmar, pois sabia muito bem que a culpa era dela. Por alguma razão, ele parecia muito mais ansioso do que o habitual. Segurava a sua mão com leveza, todo aquilo era um ato normal para ele, mas a sua presença naquele lugar tornava tudo diferente. "Será que ele não gosta da ideia de estudar-mos juntos?" Interrogou-se, seguindo-o o mais rápido possível, sem cair nos seus próprios pés. Seria uma grande vergonha se isso acontecesse, ao ponto de ela ser incapaz de ultrapassar isso. Um suspiro longo pareceu despertar a sua atenção mas logo a seguir voltou as suas duvidas e interrogações. Levantando o olhar do chão para o ar, entendeu que já deviam estar no coração da multidão, pois esta cercava-a. Mais uns passos e parou. Parou de choque, de surpresa, obrigando o seu amigo a parar também.
A sua frente elevava-se no ar um enorme dirigível bege claro, flutuando levemente no ar, milímetros do chão sem lhe tocar. Brilhava, por mais incrível que parecia, criando a ilusão de tocar no céu azul claro, tornando tudo a sua volta ainda mais especial que antes.
- Porque é que paraste? - interrogou-a William, ainda a segurar a sua mão. - Temos que ir ou a Miranda vai dar nos cabo do juizo.
- Sim, mas... - gaguejou, corando um pouco.
Não devia estar tão impressionada. Não lhe ficava nada bem, especialmente considerando o carácter dela, mas nos últimos dias, muitas coisas mudaram, tanto por fora como por dentro. Já não era a mesma pessoa que a dias, e tinha a certeza que não seria a mesma dai a alguns meses. A magia alterava tudo, mesmo as mais pequenas coisas.
Ainda um pouco impressionada, seguiu o seu amigo, confiante que ele iria ajuda-lá no caso de necessidade. O que mais sentia naquele momento era insegurança, que se instalara confortavelmente logo após a partida de casa, recusando-se a ir embora por nada. Apenas a pura teimosia a impedia de desatar a chorar como loca, sabendo que tal só iria assustar os seus acompanhantes. Nem mesmo uma demonstração de nervosismo era aceite, mostrando-se sempre forte e confiante, como se nada tivesse mudado.
Por entre as pessoas, a cara familiar da Miranda era como uma farol e o seu sorriso reconfortante enchia Alice de segurança, tal como a mão quente do William.
- Pensei que iriam chegar atrasados!- afirmou logo que os viu, dando um abraço aos dois.
O William sentiu-se incomodado, porem, ficou calado que nem uma pedra, olhando de soslaio para o seu pai.
- Ora bem. Deem cá as suas malas. Isso mesmo. - sorriu ao pegar nas malas, fazendo-as desaparecer de um momento para outro.
A rapariga não consegui deixar de se sentir impressionada, pois além das pequenas levitações que William lhe tinha demonstrado, era a primeira vez que via magia a sério.
-Ora bem. - voltou a dizer. - Partimos daqui a dez minutos. Podem ir dar uma volta ou procurar um quarto desocupado e mantenham-se...
Miranda ia dizer algo quando uma senhora furiosa, que já a estava a chamar alguns momentos, interrompeu-a, gritando-lhe do fundo dos pulmões.
Sorrindo, o grupo afastou-se um pouco, deixando-a tomar conta da situação.
"Mas que giro..." a rapariga ruiva pensou, voltando-se para o William, ainda sem saber o que fazer quando o viu ao pé do seu pai, a conversar. "Ele deve querer despedir-se..." pensou mais uma vez, decidindo que seria melhor deixa-los sozinhos. Afinal, ela não era ninguém para ele, apenas mais uma estranha da qual foram incumbidos de tratar, pelo menos o pai do William tinha. Sabia que, apesar de este ter sido simpático com ela, não devia gostar muito dela, tal como a sua mulher, pois ela era diferente da maioria das pessoas que ai se encontravam.
Sem prestar atenção por onde ia, decidiu dar um passeio por entre as pessoas, mantendo-se perto o suficiente do dirigível para não o perder. Só que, de repente, começou a ser arrastada para o norte. Não sabia onde estava e o dirigivel era impossível de se ver. "Oh meu Deus! O que vou fazer agora?" Pondo-se em bicos de pés, tentou encontrar um ponto de referencia. Uma tentativa inútil que não deixava de ser estúpida ao mesmo tempo. "Excelente! Devo perguntar a alguém?" As interrogações que surgiam no seu intimo cresciam de momento em momento, tornando-se mais fortes e assustadores. "E se eu não encontra-los? Não vou para a escola, pois não?"
Foi então que, enquanto Alice olhava para o chão já com lágrimas de olhos como uma criança perdida, ansiosa pelo seu destino, que um grito lhe dirigido ecoou pelo parque, vindo de uma voz desconhecida.
- Cuidado!
Olhando para cima confusa, somente teve tempo de ver um objeto grande e castanho a voar na sua direção, acertando a em cheio. Devido ao impacto, Alice não aguentou ficar de pé, caindo com as costas no chão.
Presa no chão por uma mala gasta, não conseguia mexer-se por nada, não podendo sequer chamar por ajuda, pois um dos cantos da mala sufocava-na devagar, pressionando o pescoço contra o chão. O peso do objeto era enorme, muito mais do que estava a espera, e, ao ter o braço esquerdo por baixo das costas, não conseguia reunir força suficiente para retirar a mala sozinha. Os minutos, ou assim lhe pareceu, passavam devagar, enquanto os seus pulmões gritavam mais e mais alto pelo oxigénio, ardendo no interior. Ouviu as vozes de algumas pessoas, mas ninguém se dava ao trabalho de ver o que estava a passar-se, até que uns passos silenciosos, quase impossíveis de se notar, aproximaram-se e a pesada mala foi retirada rapidamente. Alice virou-se, tossindo de alivio enquanto tentava absorver todo o ar que conseguia, esfregando o pescoço lentamente enquanto esperava para recuperar o seu braço esquerdo.
- Peço imensas desculpas! - exclamou alguém logo ao seu lado, agachando-se para ver a sua cara, oferecendo a sua mão.
As mãos, grandes e fortes, agarraram as suas, segurando-as levemente e levantando mais de metade do seu peso sozinhas, sem que Alice tivesse mexido um músculo. Segundos mais tarde. já estava de pé, virada para o seu salvador, mais do que espantada. A sua frente encontrava-se um rapaz alto, com um metro e setenta e cinco talvez, e giro, pelo menos foi o que a Alice pensou. O seu rosto, apesar de ter traços delicados, era de um homem, com traços bem definidos e pele clara, um pouco mais escura que a sua. O cabelo, castanho claro, parecia fogo à luz solar. Mas o que mais a espantou foram os seus olhos. Eram castanhos escuros, muito mais escuros que ela algumas vez tinha visto. Eram tão misteriosos, parecia que a pessoa podia perder-se neles e nunca mais voltar.
- Estas bem? - interrogou-a outra vez. - Eu não queria que isto acontecesse.. - acrescentou, um pouco envergonhado, olhando para o chão.
- Estou bem. - respondeu-lhe Alice, sorrindo e rindo-se um pouco dele. - Fui só apanhada de surpresa. Apenas isso.
O rapaz sorriu-lhe de volta, mais relaxado, levantando a cabeça, segurando com as duas mãos a sua mala.
- O meu nome é Jake. - apresentou-se.
- Prazer em conhecer-te. Eu sou A...
Ela ia quase a dizer o seu nome quando uma mão gelada fechou a sua boca, impedindo-a de pronunciar o que quer que seja, enquanto a outra agarrou a sua mão, puxando-a para traz repentinamente quando um grupo de pessoas interrompeu-se entre ela e o Jake, separando-os. Mas esta nem pensava nisso, apenas concentrava-se na mão que a puxava atrás de sim, ansiosa, sem qualquer cerimonia. Alice apenas via as costas do rapaz que a lavava, mas sabia que era o William que arrastava rapidamente sem lhe dar oportunidade de escapar.
Do outro lado da multidão, Jake olhava para a mão com a qual tinha segurado a rapariga cujo nome não chegou a saber, fechando-a num punho apertado enquanto afastava-se, com a mala a flutuar levemente ao seu lado.
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