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8.30.2012

Magia Da Alice: Inicio da Jornada parte 9-2



   Olhando pela janela, Alice parou de ouvir os seus companheiros e começou a pensar na sua família e nas saudades que tinha deles. Ainda tinha dificuldades em acreditar que, afinal de contas, ela era uma feiticeira, uma pessoa magica, que vivia com uma família adotada. A sua cabeça era uma confusão completa. Tinha tanta coisa para esclarecer, procurar e encontrar. Os pensamentos acerca da sua verdadeira família preenchiam cada momento que ela tinha, dando voltas e reviravoltas, sem que ela compreende-se a ligação.
 - Alice. Alice! – chamou alguém abanando o seu braço.
 - O que? - virou-se ela, bruscamente, afastando-se ligeiramente, deixando-o espantado. - Desculpa. Eu estava perdida nos meus pensamento. 
 - Toma mais atenção... – suspirou Jake, sorrindo no final. – Estávamos a falar acerca da escola e as saídas profissionais de cada curso.
 - Saídas? Curso? Vocês estão a falar de que?
Os três olharam-na espantados, de olhos bem abertos sem acreditar no que estavam a ouvir. A escola a qual iam era uma das mais prestigiadas e mais difíceis de entrar. As pessoas sem talento eram expulsas logo no primeiro dia e as recompensas pelo trabalho e o estudo eram enormes. Quanto mais alto subias, mais respeito a pessoa recebia dos outros.
 - O que é que tu sabes sobre o mundo dos mágicos? – interrogou cautelosamente Irene, afastando-se um milésimo da Alice.
 - Honestamente... Nada. – confessou, olhando para baixo.
 Não a agradava nada isso, mas ninguém tinha disposição nem tempo para lhe ensinar. Sentia que devia saber alguma coisa, porem as circunstancias não ajudavam nada.
 - Onde é que viveste até agora? – brincou Jake recebendo um ponta pé da sua irmã. – Au. Desculpa estava a brincar.
- Vivi no meio de humanos normais. - respondeu ela, deixando os surpreendidos. - Que pelos vistos não são meus pais verdadeiros.
- Então quem são? - perguntou o Jake ficando cada vez mais interessado na historia dela, o que fez com que a irmã lhe desse outro pontapé. - Au.. Isso foi necessário? - perguntou ele, virando-se para ela, irritado.
-Empresários... ou estavas a falar dos meus pais verdadeiros? De qualquer maneira, eu não sei nada sobre eles. Tal como sobre a escola ou o mundo magico. Não sei nada, ninguém me disse, nem sequer a Miranda.
 - Então... Eu explico. – Jane falou pela primeira vez em horas. – Mas terás que prestar muita atenção. -respirando fundo, Jane começou a falar.  - Tal como já reparaste antes, a magia é uma arma muito poderosa. As ilusões são apenas um dos poderes dos mágicos. A própria natureza e os seus elementos dividem-se, proporcionando uma fonte de poder extra. Para te explicar tudo teria que entrar muito na nossa historia, por isso vou só falar das coisas elementares.
 "O mundo dos mágicos existe paralelamente ao mundo dos humanos, divididos por uma fina película de magia que funciona como um espelho e escudo. Apenas pessoas com poderes podem passar para o outro lado.
 No passado, o nosso mundo era um lugar esplêndido e fantástico. Todos viviam lá felizes, pois com a magia podiam resolver qualquer problema. Mas um dia tudo mudou. As nossas cidades caíram, os castelos, palácios, estátuas, templos... nada ficou, apenas uma casa entre ruínas onde se fundou a escola para onde vamos. As crianças e os adultos foram expulsos, ficando apenas os mais poderosos e hábeis para traz. De modo a que ninguém indesejado entre, foi criada uma barreira que, apenas graças as instruções deixadas por alguém desconhecido, foi possível abrir, permitindo assim a entrada de habitantes para lá. Porém, já ninguém queria voltar. Tudo estava destruído, um completo desastre. As estradas estavam esburacadas, os edifícios em ruínas. Era um mundo morto. Algumas partes foram reconstruidas, permitindo a educação a muitos que ficaram para reconstruir tudo. Agora muitos ficam, porém a maioria das cidades ainda estão destruídas. Repararas quando lá chegarmos.”

   Ao ouvir a Jane, Alice não deixava de se sentir um bocadinho espantada perante tal história. Parecia tudo muito irreal. Mas, mesmo assim, não se sabe porque, ela voltou a lembrar-se do dia em que a mãe, Lily, disse que ela nasceu. Lembrava-se de ouvir-la dizer que chovia muito nesse dia, com enormes trovoadas e trovões que envolviam os céus negros de Verão. Pensando nisso naquele momento, ela entendeu que a Lily deve ter falado do dia em que a recebeu. Olhando para baixo, uma torrente de perguntas investiram o cérebro dela, como “Será que a minha mãe verdadeira ainda anda algures por este mundo?” ou “Terá ela desaparecido com as nuvens?”, mas mesmo assim um pouco presente na conversa da Jane.
 - Mas não tens que prestar atenção a esses disparates. – afirmou repentinamente Jake sorrindo. – Quase já ninguém liga ao passado, pelo que a tua falta de conhecimento histórico não vai ser notada muito. Apenas deves fingir que não estas surpreendida por tudo o que vês, ok?
 Acenou com a cabeça em concordância, sabendo que talvez isso seria muito melhor. Porem as caras enigmáticas dos amigos assustavam-a um pouco. Porém resolveu não lhes perguntar, entretendo-se a olhar para o passar lento das nuvens. Repentinamente, a porta escura abriu-se rapidamente, entrando lá dentro a rapariga de cabelos loiros longos que tinha visto ao pé do William. Tinha uma cara arrogante ao olhar para o pequeno grupo sentando nos sofás.
 - Aonde o mundo desceu. – afirmou.
 Tinha uma voz muito fina, como se ainda fosse uma criança. As roupas que vestia eram muito finas e elegantes.
 - Nunca pensei que chegaria a viajar no mesmo dirigível que gente da vossa classe. Pelos vistos essa escola nem é assim tão importante como dizem.

  Lançando um olhar de nojo e um de ódio profundo a Alice,  a rapariga loira saiu sem sequer fechar a porta atrás de si. Irritada com a sua indelicadeza, Alice, que naquele instante estava o mais perto da porta, levantou-se para fecha-la. Agarrando a maçaneta, Alice olhou para cima e deu-se de caras com a pessoa que menos queria de ver naquele momento, o William, que seguia a rapariga mal educada. Com o ódio a subir outra vez à cabeça, e com os olhos a arder de vontade de chorar, Alice, com um “com licença” sarcástico, fechou a porta com um grande “Bam!” mesmo na cara dele, sentando-se logo e cruzando os braços para não matar ninguém.
   Os seus companheiros, zangados por causa da estranha, ficaram espantados por vê-la reagir daquele modo.
- O que se passa? Se foi por causa da Ellian Bordaux tens que te habituar.
 Alice olhou para Irene surpreendida.
 - Não me digas que estavas chateada por outra coisa. O rapaz que passou agora irritou-te? – interrogou outra vez, extremamente perspicaz.
 Um pouco surpreendida com a pontaria que a Irene tinha ao perguntar aquilo, Alice teve de tentar inventar qualquer coisa.
- Não, estou zangada com a rapariga. Quem é que ela pensa que é?
- A rainha! – disseram os três em uníssono.
   A surpresa foi substituída pelo riso geral. Pelos vistos cada um já tinha a chamado assim em privado, sendo a primeira vez que todos concordavam nessa alcunha. Passando uns minutos, quando tudo já se tinha calmado,a Jane recomeçou a sua explicação.
- Portanto – disse ela para clarear a sua voz -  apesar de já não vivermos no nosso mundo, muitos costumes mantiveram-se. O nosso mundo é, ou era já não tenho a certeza, uma monarquia. Logo, as pessoas estão divididas em classes. Primeiro vem o rei e a sua família. Depois os aristocratas, os duques e os lordes. Depois vem a baixa nobreza e o povo. Temos outros nomes mas é para tu entenderes.
  “Ellian pertence ao grupo dos aristocratas. Estes detêm um incrível poder e sendo que o poder é transferido por sangue, consegues imaginar como ela é poderosa, ou pelo menos vai ser.” Jane riu-se um pouco, ficando seria outra vez dando tempo a Alice para absorver a informação.
 - William também é? – interrogou sem pensar no que fazia.
 - William? Referes-te ao William Cold? Como é que tu o conheces? – Jake estava muito mais surpreendido do que ela esperava.
 Pelo seu tom de voz, o estatuto do William era evidente, porem a cara dele revelava algum medo e repugnância. Alice reprovou-se por aquele deslize tão parvo, ficando um pouco chateada consigo mesma.
 - Conheço-o só de cara. – mentiu descaradamente – Ouvi o seu nome. Antes de entrar no dirigível. Estava com aquela rapariga loira... Ellian, certo? Então ele também é bastante poderoso....
 Jane concordou, sorrindo um pouco. Parecia sorrir apenas para a Alice, lançando olhares malvados ao seu irmão de vez em quando.
 - A sua família é uma das mais poderosas, podendo ser a mais poderosa a seguir a família real....
- Família real? – perguntou Alice, sentindo um pequeno aperto no coração, apesar de não entender bem porque.
- Sim. O rei, rainha, os príncipes e princesas. Bem. Tu entendes. Mas... Nunca mais se ouviu falar deles. Já a muito tempo que não se sabe o paradeiro do rei e da rainha, pelo que, a irmã da rainha esta a controlar tudo por agora. – disse ela, de má vontade como se odiasse a mulher.
- A irmã? – perguntou Alice, desta vez, um pouco mais interessada historia.
- Sim... Ela esta na ... Ah... – exclamou ela, ao olhar pela janela. – Vamos passar pela barreira agora.
 -  Pois é... – disse Irene, ao voltar-se para Alice. - Vais adorar esta parte! – exclamou ela entusiasmada. – Uma vez o meu pai levou a ver a casa dele e tivemos que ir pela barreira... Adorei! Deve ser uma das coisas mais magicas que vi até agora.
 “Uma das coisas mais magicas? E então o balão? Para mim é magico o suficiente....” pensou Alice de relance.
 Repentinamente, a luz desapareceu por completo, ficando toda a gente em silencio. Assustando-se um pouco com a súbita falta de luz, Alice começou a deslizar para perto da única fonte de luz possível, a janela. Quando já estava o mais perto, pedindo desculpa por sentar-se em cima da mão da Irene, Alice reparou que não era só o seu compartimento que não tinha luz, era o dirigível inteiro. O pequeno dirigível encontrava-se na escuridão total. De um lado estava um mundo verde que ela identificou como Terra, enquanto do outro só se via uma película dourada que lhes impedia a entrada.
 - Agora vai começar. – disse Irene com os seus olhos pretos a cintilar de emoção.
 De repente, de dentro da barreira, começaram a imergir círculos de luz, de várias cores, verdes, amarelos, cor-de-rosa, rodeando o dirigível, e puxando-o para mais perto da barreira dourada. Olhando a volta, Alice reparou que os círculos tinham algo escrito mas era impossível decifrar o que estava la representado, pois os símbolos não eram aquilo a que ela estava acostumada. Com o desejo de descobrir o que estava la escrito ou de como tudo acontecia, Alice aproximou-se mais da janela, olhando fixamente para os símbolos. Foi então que, quando o dirigível tocou levemente na barreira, essa rebentou em milhares de pequenas luzinhas douradas, contornando o dirigível elegantemente, abrindo assim, uma pequena passagem para ele. As partículas pareciam estrelas cadentes, cintilando felizmente na escuridão total, iluminando-a pedaço por pedaço, centímetro por centímetro. As luzes juntamente com o resto dos círculos mágicos criavam uma bela sinfonia de cores que encantava a todos. De repente, o dirigível aumentou a velocidade passando rapidamente pelo buraco que se tinha criado e ao qual ninguém tinha dado atenção, abrandando logo a seguir. As nuvens carregadas de vapor de agua impediam a vista do chão, o que fez com que todos começassem a afastar das janelas devido ao desinteresse, voltando aos seus lugares, já com as luzes acesas.
Ainda um pouco espanta, Alice olhou para os seus colegas que pareciam estar a espera de alguma coisa.
- A-Adorei! – exclamou ela, sorrindo de orelha a orelha.- Tinhas razão, é incrível!
 - Sabei que ias gostas. Todos gostam. – declarou Irene, feliz por ouvir tal coisa.
Os risos encheram mais uma vez a sala e todo o dirigível, que estava silencioso a alguns minutos devido ao espanto de alguns e aborrecimento de outros que já tinham visto aquilo dezenas de vezes.
Enquanto iam lentamente a escola, para Alice parecia como se estivesse a demorar toda a eternidade. A sua volta ela encontrava pessoas que sabiam pelo menos alguma coisa sobre o lugar para onde iam e o que iam encontrar, enquanto que ela não fazia a mínima ideia de como encarar tudo e todos. Segundo Jane, ela não deveria preocupar-se com nada,  pois a maioria das crianças nunca foram ao mundo, apenas conhecendo-o por alto das historias que os pais contava. Riram-se com prazer das historias estúpidas de cada um, especialmente da do Jake, que primeiro usou os seus poderes para fazer desaparecer a sopa que detestava aos cinco anos. O mais hilariante era o facto de ele ter acabado por come-la na mesma, forçado pelos seus pais, da tigela do cão deles onde esta acabou por  parar. Porém ninguém, especialmente Alice e Irene, entrou em muitos pormenores acerca da sua vida, já sentindo a ansiedade a rodeá-las vigorosamente. Só tinham a certeza de uma coisa, já estavam a chegar.

8.16.2012

Magia da Alice: Inicio da Jornada parte 9-1

A Barreira

   O dirigível, que era enorme de fora, parecia infinito por dentro. Os corredores vermelhos estendiam-se sem fim, dividindo-se em vários compartimentos, com um tapete bege claro a  estender-se no chão de madeira escura.  Era um tapete simples, sem nenhum tipo de padrão nem formas, porém ao toque era tão suave como uma pena, envolvendo cuidadosamente as sandálias abertas da Alice que percorria os corredores sem sentido aparente, olhando em frente e sem modificar a sua expressão, ao mesmo tempo triste e zangada, tentando manter as suas lágrimas, que ainda escoriam lentamente pelo rosto dela e brilhavam ao receber a luz vinda de candeeiros de parede luxuosos, sob controlo, prometendo a sim mesma de nunca mais chorar por causa dele, qualquer que seja a razão. Para ela, naquele momento, ele não valia nada e ela não tinha nenhuma intenção de sequer pensar nele. Afinal de contas, qual a possibilidade de ela encontra-lo na escola no meio de tanta gente? Nenhuma.
   Percorrendo, aquilo que parecia, metade do dirigível, Alice decidiu parar e encontrar um compartimento onde  pudesse ficar sem ser incomodada por ninguém, especialmente pelo William.   As vozes alegres e altas dos outros passageiros ouviam-se a cada passo que Alice dava. Parecia como se todos os compartimentos estivessem ocupado. As vezes parecia que não havia ninguém, mas cada vez que ela abria a porta encontrava coisas que nunca tinha visto como plantas gigantes que se roçavam contra o dono, morcegos que comiam pedras, ou mesmo um miúdo que mandou uma bomba de mão cheiro no seu compartimento, correndo para fora dali de seguida. Percorrendo mais uma metade to dirigível, Alice achou que nunca mais iria encontrar um lugar. Até os seus pés já não funcionavam devidamente, devido ao cansaço. Olhando a sua volta, percebeu que não havia ninguém por perto. Estava tudo tão calmo como num cemitério, sem um único barulho.  Achando que talvez tivesse encontrado um sitio para si, ela aproximou-se duma das portas. Foi então que reparou nelas. Antes ela abria as  sem olhar nem por um segundo. Essa porta era madeira, tendo uma tonalidade vermelho escura, quase preta. Tinha quase 2 metros de altura com uma maçaneta dourada ornamentada com um desenho a prateado que parecia um unicórnio... Não era muito larga, pelo que Alice considerou que o compartimento era pequeno ,tendo dois sofás de cada lado da parede. Abrindo a porta e não vendo ninguém lá dentro, Alice suspirou de alivio, porém, quando fixou o que estava lá dentro, fechou logo a porta..
-    Mas que.... - ela começou por dizer, mas parou, afastando da porta. 
   Aproximando-se outra vez da porta, Alice estava a tremer enquanto tentava ganhar coragem para a abri-la. "Havia lá um sofá gigante, isso foi sem duvida, e... e uma mesa redonda? Mas..  a porta é tão pequena!" pensou ela analisando a porta. Por fim, ganhando coragem, ela abriu a porta e entrou la sem acreditar no que via.
    Do outro lado da porta estendia-se um enorme quarto arredondado vermelho, com uma pequena janela redonda que estava aberta um pouco, deixando entrar o ar fresco deixado pela chuva. O sofá bege contornava as três paredes numa forma de semi-circulo, parecendo tão confortáveis como as almofadas de penas que estavam em cima deste, convidando a sentar-se nele. No centro, em cima do tapete bege, uma mesa pequena de vidro e madeira clara parecia encaixar perfeitamente no pequeno espaço que sobrava para os pés dos passageiros. “Não pode ser. Não é real...” pensou ela, respirando fundo, olhando de relance para fora do compartimento. Apesar de tudo que tinha imaginado acerca da magia, acreditava que aquilo que via era impossível. Pura simplesmente não poderia existir. Um quarto enorme e uma entrada pequena, onde isso já tinha-se visto?  Decididamente perder a cabeça não era uma boa opção, logo, não lhe sobrava mais nenhuma alternativa que verificar mais uma vez.
Entrando devagarinho, admirou-se com o trabalho realizado pelos arquitetos na parede, se foram eles sequer que lá trabalharam. Ao longo da parede, que podia parecer lisa, sobressaiam pequenos traços sem sentido preenchendo a parede de cima a baixo, criando padrões visuais muito bonitos com linhas entrelaças a torto e a direito, tendo mesmo assim um sentido próprio. Apetecia-lhe toca-los, porém algo desviou a sua atenção, obrigando-a a voltar-se para traz um pouco espantada.
 -   Ol...a... - afirmou alguém depois de ter sido apanhado a tentar entrar sem aviso.
 -   Eu bem te avisei! – soou uma voz feminina muito perto.
   O estranho parou perto da porta, sorrindo. Era o mesmo rapaz que lhe tinha ajudado antes, por outras palavras, o que a tinha derrubado com a sua mala. Alice ainda não entendia como tal poderia ter acontecido, mas o que tinha chamado a sua atenção não fora apenas ele. Perto dele duas raparigas olhavam-na, tão distintas uma da outra o quão possível, apesar de uma se parecer com o rapaz.
 - Importas-te que entremos? – tentou desta vez perguntar visivelmente pouco a vontade por ter sido apanhado.
- Não... Não me importo! - disse ela, rindo-se um pouco, pois achava situação um bocadinho estúpida já que o quarto não era dela.
- Excelente! - exclamou o rapaz,  passando ao pé dela e instalando-se não muito longe da janela.
  As outras duas, sem dizer uma única palavra sentaram-se uma em cada ponta do sofá, olhando-a um pouco de lado.
Espantada por causa disso, Alice apressou-se a passar ao lado duma das raparigas e sentar-se ao pe da janela. Depois de ela se instalar bem no seu canto, um longo momento de silencio instalou-se na sala, incomodando a todos um pouco. De relance, ela olhou para o resto dos companheiros, cada um fazia o que queria. Mas o que chamou a sua atenção foi o olhar intenso do rapaz que a observava sorridente.
-  Desculpa... Mas, podias para de me olhar assim? - perguntou Alice um pouco incomodada.
 - Ah... desculpa. Não te queria incomodar. Só que não podia acreditar que te encontrei cá. Tal como tinha dito antes, o meu nome é Jake, prazer. – ele disse, sorrindo. – Não cheguei a perguntar o teu nome, pois foste arrastada por alguém... quem era, o teu namorado?
  - Jake comporta-te – ralhou a rapariga de cabelo castanho que se encontrava mais chegada a ele.
    Era incrivelmente parecida como ele, até mesmo a cor dos olhos, mas a sua expressão era muito mais séria e adulta que a do outro. Deviam ser irmãos, porem a irmã não perecia ter muito afeto a ele.
 - Sou Jane. – continuou, reparando no olhar espantado da Alice. – Somos gémeos, como já podias ter avinhado. Não que me orgulhe disso...
    A ultima parte veio tão baixinho que quase ninguém ouviu, expecto o irmão que apenas riu um pouco.
-  Prazer em conhece-los. – acrescentou a ultima rapariga, entrando na conversa rapidamente. – O meu nome é Irene e espero ficar na mesma turma que vocês. Parecem muito simpáticos.
    Ao contrario dos gémeos que pareciam muito humanos, ela era tudo menos isso. Os seus olhos pretos pareciam carvão, com a única diferença que brilhavam ligeiramente com um tom avermelhado. A pele clara quase branca, realçava os contornos delicados da cara e do cabelo  escuro que vinha apanhado num rabo de cavalo. As roupas que vestia eram justas apertando a cintura e as ancas, realçando os belos contornos do seu corpo. Parecia mesmo uma boneca de porcelana com uma voz de mel que soava magnificamente aos seus ouvidos.
 -  Eu sou Alice. – apresentou-se por fim com um pequeno sorriso.
    Todos pareciam incrivelmente simpáticos, pelo que achou seguro relaxar perto deles. O incidente com o Cold já tinha sido esquecido e guardado na caixinha negra. Alem disso, as probabilidades de se encontrar com ele na escola que, segundo o que estava a ouvir dos seus companheiros era enorme, eram quase nulas, assim não valia a pena preocupar-se com os problemas passados. O passado era passado, presente o presente, e Alice vivia no presente.

8.02.2012

Magia da Alice Inicio da Jornada parte 8-2

 As mãos prendiam os seus pulsos como correntes de ferro pesadas, arrastando-a violentamente traz de si, sem lhe proporcionar nem uma oportunidade de fuga. A respiração pesada perdia-se por entre a multidão enquanto eles furavam-na facilmente, caminhando cada vez mais e mais depressa.
 - William, espera! - pediu Alice, tentando abrandar.
 Este apenas abrandou um pouco, sem parar, deixando-a apanhar um pouco de ar fresco. Alice não conseguia ver a sua cara, apenas as costas grandes e tensas que tantas vezes viu durante a sua vida. Deixou-se guiar por entre a multidão que se despedia, com promessas de reencontro e saudades. Não valia a pena tentar chama-lo mais uma vez, pois sabia que, com aquela barulheira toda, ele não a iria ouvir por muito mais que ela gritasse. Mas sentia-se muito ansiosa e, ao começar a reconhecer o lugar por onde passavam, entendeu que já estavam muito perto.
 - Espero que se despachem... - ouviu a voz da Melinda por entre a multidão.
 Como  se tal fosse possível, o passo do William acelerou ainda mais e as correntes tornaram-se mais apertadas, começando a magoa-la ligeiramente. O William estava decididamente ansioso e ela não conseguia entender porque. Ao reaparecerem da multidão, o olhar zangado da Miranda faiscava a medida que esta gritava palavras meio escondidas pela barulheira sobre responsabilidade. Alice não conseguia desviar o seu olhar daqueles olhos, mantendo-se calada o tempo todo, mesmo sabendo que a culpa não era totalmente dela. Para a sua sorte, o sermão foi interrompido e, podendo desviar o olhar, fixou-se nos olhos do pai do William por instantes. Estes eram tristes e frios, bem como cansados e um pouco arrependidos. Mas Alice bem podia estar enganada, não confiando nos seus instintos.
 De repente, os olhares de William e Cain cruzaram-se e o primeiro apertou com muita força a mão que ainda segurava, já com mais delicadeza, sentindo a pele suave e quente da Alice, antes de a soltar, deixando cair as mão enquanto se afastava pesadamente em direção a entrada do dirigível, decidido. A escolha que fizera  era difícil, até mesmo para ele, mas tencionava segui-la até o fim. O verdadeiro problema vinha a seguir, porem, mesmo depois de toda a preparação mental que tinha, nunca poderia adivinhar o quão difícil seria.
Vendo-o afastar-se, Alice não conseguia deixar de sentir-se um bocado assustada pela maneira de como William a puxou e depois largou sem nenhuma palavra. Virando-se na sua direção e decidida a enfrenta-lo, ela começou por dirigir-se na sua direção, mas foi apanhada por Miranda.
 - Espero que isto nunca mais aconteça, minha menina! - afirmou ela.  - Vemo-nos mais tarde.... Tenho que ir tratar de mais algumas coisas.
 O seu sorriso relaxado e alegre animou-a e, ao dar um beijo, deixando-a como pai do William sozinhos. Baixando a cabeça por um bocadinho, Alice sorriu e agradeceu-lhe por tudo, ainda um pouco envergonhada, recebendo em troca um não faz mal e um pequeno sorriso que a impressionou imenso, começando a correr em direção ao dirigível.
 Parecia que quase toda a gente já tinha entrado e, olhando para cima, reparou que o William a fixava serio, até demasiado, demonstrando um ligeiro ódio e desgosto por ela, que nunca tinha visto antes. Regra geral, ele apresentava uma expressão neutra ou trocista, sarcástico e rabugento como um pit-bull irritado, só que naquele momento, tudo isso desapareceu. A ansiedade não era a única emoção que bailava no seu interior, mas passará a ser a mais importante naquele momento.
 Com expectativas de que isso era só sua imaginação, Alice começou a ir na sua direção, demonstrando um sorriso, como se esperasse de que isso iria mudar as coisas, mas enganou-se. Em vez de estar sério, ele estava tenso, resulto, cansado e decidido, tal como o seu pai. Os seus olhos, geralmente quentes e trocista, estavam frios e ferozes, e ele olhava diretamente para a Alice, como se visse uma coisa nojenta e desnecessária. Olhando assustada para o Wiliiam, Alice nem se apercebeu de que toda aquela cena tinha espetadores.
- Conheces-a? - perguntou alguém, não muito longe do sitio onde Alice estava parada.
Voltando para essa direção Alice viu uma rapariga com uns cabelos loiros ligeiramente encaracolados, com uns olhos azuis, um bocado escuros, pequenos mas ferozes, que condiziam com a pele praticamente porcelana. Ela aproximou-se do William, tentando dar-lhe um beijo na bochecha, o qual ele recusou silenciosamente, sem desviar o seu olhar da Alice. A rapariga era praticamente da altura do William e representava uma atitude um pouco superior e arrogante, como se nada valse-se a pena para ela. Vestia uma saia longa turquesa que condizia com a camisola bege e com um sinto verde que ela tinha. Parecia tudo menos uma rapariga normal. Os outros olhavam-na de cima a baixo, avaliando a roupa que usava e a expressão confusa da sua cara.
  Podiam bem ter passados anos ou séculos, mas por fim, os músculos da cara do rapaz contrairam-se num sorriso estranho, um pouco cruel.
- Esta? - perguntou ele,  com uma voz fria e indiferente. - É uma miúda que não me deixa em paz. Só porque vivemos na mesma rua e eu disse-lhe umas palavras, já ficou a pensar que somos amigos. Patético. - disse ele, começando a rir-se logo a seguir seguido pelos amigos. Isso deixou Alice um pouco perturbada, ela não conseguia entender o que estava a passar-se.
- Devia ter adivinhado. - disse um rapaz que estava ao lado dele. Esse era muito mais alto do que o William. Tinha uns cabelos castanhos escuros e uns olhos cinzentos praticamente brancos, o que o tornava um pouco assustador, sendo piorado pelas roupas que ele trazia. Ele vinha com umas calças um pouco gastas e rotas, com um fio de correntes do lado esquerdo dessas. Tinha uma camisola que dizia "Death is is my friend!" sendo tudo escrito com letras que pareciam sangue a escorrer. Para piorar usava duas pulseiras, uma preta com bicos e outra vermelha, na mão esquerda, e uma luva preta na mão direita. - O William nunca andaria com a escumalha dela. Ainda por cima olhem para as roupas dela, parece ter vindo duma venda de garragem, ou como la eles chamem isso.
- Não digas isso, Dex. Isso vai deixa-la magoada, não é William? - perguntou ela, pegando no braço dele e chegando-se a ele mais perto, o que fez com que Alice quisesse dar-lhe um bom pontapé.
- E não é essa a intenção? - perguntou ele, olhando para Alice com uns olhos cheios de ódio.
Até esse momento ela conseguiu aguentar todos os comentários das pessoas que estavam a sua volta, não se deixando abater por elas, mas as palavras do William eram as que estavam a magoar mais.
- Mas que raio passa-se contigo? - perguntou ela, tentando conter o tremor da sua voz.
- Oh... A pobre rapariga não esta a entender nada, pois não? Então deixa-me explicar-te isto! - disse ele, libertando-se do abraço da rapariga e chegando-se mais perto dela. - Eu nunca, mas NUNCA, quero voltar a ver a tua cara, apesar de isso ser impossível já que vamos para a mesma escola. Mas não tentes falar, sorrir, acenar ou mesmo olhar para mim, ou se não, vais te arrepender.
- O que? - perguntou ela, um pouco enervada, porem triste por ouvir aquilo tudo.
- Entende de uma vez por todas, "vizinha"! Eu ODEIO-TE! - disse ele as últimas palavras com a voz mais gélida que conseguia, apesar de não querer dizer isso, mas era necessário, e ele entendia isso.
Chocada, Alice olhou para o chão, completamente a tremer de ódio e de tristeza. Na sua cabeça parecia existir um remoinho de pensamento e de ideias de como se vingar dele, mas em vez disso ele continuou com a cabeça virada para baixo como se estive-se sem vida.
- Vejo que já entendeste a mensagem. - disse ele, virando-lhe as costas. - Vamos pessoal.
Começando a andar, William crispou os punhos com tanta força, que até criaram-se marcas de esforço por controlar o seu ódio por ele mesmo. Ele nunca pensou que teria que utilizar umas palavras assim ainda por cima contra a Alice. Isso magoava-o, mais do que ele poderia ter imaginado.
Dizendo alguma coisa em voz baixa, Alice ainda de cabeça virada para o chão, começou a tremer ainda mais, desta vez dominada pelo ódio. Ouvindo algo ao de longe, mas mesmo assim bem baixo, fez o William parar e virar-se na sua direção, deparando-se com aquilo que ele não queria ver, Alice a chorar. Deste modo, ele teve de se controlar em não ir na sua direção e abraça-la, dizendo que foi só uma piada, William continuou a olha-la e a pensar que tinha de continuar o seu papel. Era o que ele queria, que ela o odiasse.
- Ohhh... Vejam-só, a minha vizinha esta a chorar, Não é hilariante? - perguntou ele, começando por rir-se ainda mais alto.
- Nunca... - disse Alice, ainda em voz baixa. Subindo a sua voz a seguir. - Nunca... Te fiz algo assim. Sempre... Mesmo que me... magoasses... Sempre... Perdoava-te... Pensava.. que.. se tu estivesses ao meu lado... conseguiria ultrapassar tudo... Mas... pelos vistos enganei-me. - disse ela, por entre os soluços.
De cada vez que falava, o seu ódio pelo William parecia crescer e não queria parar, de tal modo que ela não conseguia parar de tremer de tanta raiva. Fixado na cabeça ainda baixada dela, William começou por crispar os pulsos ainda mais fortemente de tal modo que as suas mãos ficaram vermelhas de tanta pressão. A multidão a sua volta dividia-se em dois grupos, uns, considerados como idiotas, estavam a rir daquela cena, adorando cada segundo dela, outros, indiferentes, preocupavam-se mais com o céu nublado que piorava a cada palavra da Alice, obrigando-os a apressar o passo.
- Sempre te perdoei... Nunca quis pensar... que tu... eras... assim... Sempre que podia.. perdoava. - disse ela, crispando os dentes. Como se fosse por magia, William desviou o olhar e fixou-se no céu que desta vez estava escuro e assustador, seguido por um relâmpago que acertou mesmo em cheio num dos postes não muito longe deles.
- Mas que...? - perguntou-se ele, olhando logo em seguida para Alice.
Entendendo que era impossível conter as lágrimas, Alice deixou-se guiar pelo ódio e tristeza que a inundavam, levando assim ao inicio da chuva que tornava-se cada vez mais forte. Com medo, todos começaram por correr para dentro do dirigível, passando pela Alice, ainda com a cabeça para baixo, e pelo William, que parecia-se mais com uma estátua. Passaram alguns minutos até Alice voltar a falar, nem sendo tocada por nenhuma pessoa que lá passou.
- Sabes... Agora... Já nem importa... Podes fazer.. O que... quiseres... A tua... vizinha irritante... não te vai... irritar mais... Ela vai.. desaparecer... tal como sempre sonhaste...
- Alice, ouve... - disse ele, com a mão estendida, como se queise-se acalma-la, dando um passo a frente.
- Não quero ouvir. - gritou ela. O som da sua voz foi seguido por um relâmpago intenso aos pés dele, que brilhou ameaçadoramente durante uns segundos, desaparecendo na chuva. - Eu entendi... muito bem.. o que tu querias. Queres que eu não fale?... Não falo... Queres que não olhe?... Não vou olhar... Não vou fazer nada... Vou ignorar-te... como se fosses uma pessoa que não... existe... Como se fosses.. um verme... como eu pareço que sou...
- Alice, não é isso...
- Ai não? - ela gritou, levantando a cabeça para ele. Os seus olhos, fixos nos do William e cheios de lágrimas, estavam já a ficar vermelhos. - Sempre que eu te perdoei tu voltavas a fazer das tuas. Sempre que tu me magoavas, vezes e vezes sem conta, eu voltava para ti como um cachorrinho que tinha um dono. Sempre.... Sempre considerei-te um amigo! - gritou ela, baixando outra vez a sua cabeça. - Mas tu nunca me consideraste assim. Sempre fui uma coisa de que tu nunca necessitaste. E isso eu entendi hoje, com as tuas palavras e estou grata por isso, porque finalmente entendi como me sinto em relação a ti. - disse ela, levantando a sua cabeça e começando a andar na sua direção, ficando ombro ao ombro com o William. Com as lágrimas ainda a escorrer, Alice pronunciou as palavras que nunca pensou dizer. - Odeio-te!- disse começando logo a correr.
Chocado, e sem saber o que fazer, William permaneceu no seu lugar, crispando ainda mais os punhos até que começaram a sangrar. Torcendo a mão de dor, William desprendeu o punho e olhou para a mão ensanguentada por sim mesmo.
- Pelos vistos, mereço.-disse ele, com uma expressão triste e preocupada, levando a mão a boca.
Ouvindo o apito do dirigível, Willaim virou-se na direção desse, e começou a andar para  dentro com as palavra "Adeus, Alice!" a esvoaçar a sua cabeça.