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5.01.2012

Magia Da Alice: Inicio da Jornada parte 7-3

 O dia veio de repente, interrompendo a calma aparente que se instalou devagar nas ruas de Headom Street durante a noite escura e fria do fim de Verão. Mesmo antes dos gatos, os habitantes da casa 28 já estavam de pé, atarefados com as tarefas que tinham pela frente. O movimento na casa era tão grande que nem mesmo os pássaros conseguiam dormir sossegados, acordando antes do tempo à piar constantemente em sinal de protesto. Mas os habitantes, cansados de ter acordado cedo, nem lhes prestavam atenção, despachando o trabalho que tinham pela frente.
 Ainda não eram seis horas que a Lily acordou toda a gente da casa, gritando que tinham que se despachar e preparar as coisas, pois o seu marido tinha uma viagem programada para as oito horas e a Alice era suposto partir mais ou menos a mesma hora, já que tinha de apanhar o transporte para a escola as nove horas em ponto, sem poder atrasar-se nem por um segundo. Como combinado, o William e os seus pais iriam busca-la as oito e meia, para ter margem de manobra no caso de algo acontecer, apesar de a sua mãe não aprovar essa possibilidade.
 Alice estava responsável por arrumar a sua mala, mas Lily interrompia-a sempre que achava necessário para ter a certeza de que ela não se esquecia de nada, o que tornava-se extremamente irritante. Mas para Alice isso até foi uma grande ajuda, pois se não fosse a mãe, ela teria provavelmente esquecido a maioria das coisas. Lily também estava a supervisionar a trabalho do Bill, que igualmente arrumava as suas malas, caladinho para não levar um raspanete.
Apesar de todo o barulho que havia em casa,o George continuava a dormir que nem um morto, irritando a mãe dele, que já o tinha acordado várias vezes para vestir-se. Mas como nada resultava, ela teve de pensar numa outra maneira de o acordar que o barulho excessivo.
 - Se tu não te levantas agora mesmo, nada de pequeno almoço para ti! - avisou Lily, entrando no quarto.
 O resultado foi instantâneo. Como um gato assustado, George levantou-se de repente, olhando-a suplicante.
- Tudo menos isso! - disse ele, praticamente de joelhos.
- Então mexe-te! - avisou ela, saindo do quarto mais uma vez.
Alice, que passava pelo quarto por acaso, ao ver este episódio começou a rir-se com vontade.
- Ei... Isso não tem piada. - declarou ele, saindo do quarto com uma t-shirt na mão e com o tronco nu.
- É claro que não. É só totalmente hilariante. - contradisse-o, rindo-se ainda mais.
- Tu vais.... - começou George, indo na direção da Alice.
- George vai vestir-te. Alice acaba de fazer as tuas malas! - gritou Lily do andar de baixo.
Com o George a meio caminho e Alice a rir-se fortemente, os dois desataram a rir ainda mais, obrigando a Lily a subir para ralhar com eles, algo que nenhum dois dois apreciou.
 As oito horas, tanto Bill como Alice, cansados depois daquilo tudo,  e já com as suas malas feitas, descansavam na sala enquanto esperavam pelo pequeno almoço, pensando no terror que a Lily parecia. Na opinião dos dois, Lily foi sempre um pouco acelerada, mas esse dia foi uma exceção, pois com os nervos em franja por causa da Alice e do seu marido, era impossível aguentar ficar na mesma sala que ela por mais do que dois minutos, sem querer sair dali a correr. Ou eram as roupas que não estavam bem arrumadas, ou era o cabelo que não estava devidamente escovado ou a roupa não era apropriada... Era tudo.
 Mas a pessoa que estava mais agitada que a Lily era a Alice. Apesar de não o reconhecer, ela não conseguia deixar de pensar no que iria acontecer a seguir. Sabendo que ninguém iria acreditar que Alice tinha poderes mágicos, os pais da Alice, em particular Bill, arranjou uma história dizendo que Alice ia estudar para fora do país, como se fosse um pedido da avo dela, que a adorava, no puro sentido da palavra.
A rapariga já estava farta dos telefonemas da prima a chamar-lhe anormal por causa do que tinha acontecido na festa, por isso, apesar de saber que a desculpa só servia para aumentar a inveja irracional que a prima tinha dela, decidiu fazer tal como eles disseram, contando mentiras sobre uma escola inexistente no meio do nada.
 "A mãe sabe mesmo como manter a calma..." queixou-se ela enquanto voltava a arrumar a mala mais uma vez, depois da sua mãe ter refilado que as roupas estavam mal dobradas.
Pelo que Miranda contou as roupas da escola seriam atribuídas no dia da cerimonia de chegada, o que era um mistério até para o William. Só que depois de todas as explicações que ela ouviu da Miranda e do William, Alice ainda não tinha recebido a resposta para a pergunta mais importante que tinha e que a assombrava desde momento em que soube que iria para tal escola. Onde é que a escola encontrava-se e como ia lá chegar.
 Olhando pela janela mais uma vez, ela não pode deixar de sentir-se feliz depois daquilo tudo. Ela iria para a mesma escola que William, podendo estar perto dele, e não como uma amiga e uma rapariga normal que ele ignorava a cada instante que podia, só para depois pedir-lhe desculpa por ter ferido os seus sentimentos, mas sim alguém que era como ele.
Agora que pensava melhor no assunto, ela não conseguia encontrar uma solução para as reações dele em relação ao facto de ela sempre o desculpar, não importa o que ele  lhe fazia. Lembrava-se claramente de todos os dias em que ele lhe feriu os sentimentos, dizendo coisas insensíveis e destruindo os seus brinquedos, só que não conseguia odiá-lo não importa quanto tentasse, perdoando-lhe sempre tudo.
Mas os seus pensamentos nunca se concluíram, pois Lily entrou no quarto como uma fera a procura da sua presa, furiosa por sua filha ainda não ter descido para tomar o pequeno almoço. As vezes, os pais conseguiam ser muito injustos e, na opinião da Alice, aquele era um daqueles dias em que tudo o que tentava fazer ia para o torto. Desde que acordará que estava a ter um mau pressentimento, mas não tinha coragem para dizer nada aos pais, receando que eles tomem alguma medida e a levem a serio.
Descendo as escadas e sentando-se a frente do seu prato, Alice devorou o pequeno-almoço com uma velocidade impressionante, até mesmo para o George, que a olhava do outro lado da mesa, um pouco chateado por ter acordado tão cedo para nada, só para ouvir a sua mãe reclamar sobre tudo e mais alguma coisa. Na verdade, ele apenas queria despedir-se da sua irmã mas parecia que até aquele pequeno gesto era impossível naquela manhã.
 A campainha tocou as oito e trinta em ponto, fazendo com que todos em casa dessem um salto de espanto. Desde que o pequeno-almoço acabou, dez minutos mais cedo, todos foram tratar dos últimos pormenores com o máximo de cuidado possível, tentando não fazer nenhum barulho. Até o George, que era conhecido por toda a cidade como o miúdo mais preguiçoso do mundo, foi aparar a relva só para não ter que sentir a tensão instalada na casa. Descendo rapidamente, Alice abriu a porta, dando caras com o William que a esperava mal educado.
 - Temos que ir ou chegamos atrasados. - avisou, afastando-se no momento em que os pais da rapariga desceram com a sua mala.
 - Promete que tomas cuidado e escreve todas as semanas, esta bem? - perguntou Lily,com lágrimas a aparecer nos seus olhos castanhos-avelã.
 - Não me digam que vão chorar? Não se preocupem. Não vai acontecer nada comigo.
- Ai.. Vem cá. - disse Lily, agarrando-a e puxando-a para os seus braços.
- Mãe... Eu vou ficar bem. - disse ela, controlando-se para não chorar também, o que em ela era praticamente impossível.
 A Lily sorria um pouco, apesar de ter lágrimas a escorrer lhe pela cara, silenciosamente, Nunca tinha pensado que iria chegar um dia em que teria de se despedir da sua filha. Abraçando-a gentilmente, sussurrou algumas palavras de afeto e encorajamento. Sabia que as coisas iriam ser difíceis para ela. Assim foram para Kate, que as vezes voltava da escola muito chateada e irritada, afirmando que nunca mais iria voltar para lá. Largando-a, e limpando as lágrimas dos olhos, Lily olhava para a Alice com a mesma cara com a qual olhou para Kate quando ela se ia embora, como se nunca a voltasse a ver.
Abraçando o pai, e dando-lhe um beijo, Alice dirigiu-se para o seu irmão, devagar e sorrindo, apesar de as lágrimas começarem a escorrer lhe pelos olhos.
 - Então maluca - afirmou George, sorrindo, mas também quase a chorar. - Não te esqueças de me trazer uma lembrança. Tenho a certeza que têm lá muitas coisas bem fixes que não precisem. - disse ele, tentando fazer com que aquilo não parecesse assim tão mau como era.
- Idiota. - declarou ela, e lanço-se aos braços do seu irmão. - Vou ter saudades tuas, George. - disse, sentindo já as lágrimas a escorrer.
Surpreendido, George parou de se controlar e abraçou Alice também, deixando umas lágrimas escorrer pelo rosto.
- Também eu maninha. Também eu.
Largando ao George, Alice virou-se para toda a família e disse um último adeus, antes de ir atrás do William na direção do carro, que começou a andar logo que ela fechou a  porta. Não conseguindo aguentar, Alice olhou para traz, mesmo a tempo de ver a sua mãe a correr atrás do carro.
Para Lily aquilo era como um pressentimento de tudo aquilo que ela tinha mais medo. Kate desapareceu deixando a Alice, para ela passar a ser sua filha sem mais explicações. E agora, a sua pequena menina ia voltar para o mundo dela, tal como devia ser. Mas o que ela mais receava era o que esperava a Alice nesse mundo.
 Alice não prometeu nada a mãe e talvez essa fosse a melhor opção, visto que nenhuma delas estava a espera do o destino lhe tinha reservado.







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