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7.07.2013

Magia de Alice: Inicio da Jornada 13-1

  Enfiada no meio dos cobertores claros, formando um pequeno balão, Alice tentava conter as lágrimas que nunca mais paravam, aumentando de intensidade cava vez que pensava no que tinha sucedido na aula. Estas escorriam como um rio perdido sem desaguo, pela sua face pálida, detendo-se levemente nos lábios rosados, caindo suavemente por entre o ar quando já não havia por onde escorrer. Com a cabeça a andar a roda de tanto pensar, só lhe apetecia adormecer para esquecer aquilo, nem que seja por uns instantes. Porém, o sono não vinha e as lágrimas recusavam ceder perante as suas tentativas de as controlar, rolando livres como o vento selvagem.
Segundos transformavam-se em minutos até que ela, com um suspiro ruidoso, levantou-se apressadamente da cama e, abrindo a pequena janela, se sentou no parapeito dessa, sentindo o vento fresco da tarde a acariciar-lhe as bochechas, enquanto reflectia já mais uma vez naquilo que aconteceu recentemente. Honestamente, parecia que a única coisas que fazia nos últimos dias era chorar, e tudo por causa do William. É claro que haviam melhores dias em que ela se riu com os seus novos amigos e descobriu coisas interessantes sobre as flores dela, mas a sensação de estar só e triste nunca a deixava. Com um suspiro longo e profundo, olhou para os campos a reflectir.
Era complicado entender como é que uma rapariga como ela acabou por entrar numa escola que parecia-se mais com um palácio ou um castelo do que uma escola normal. Mas, havia algo que lhe atraia nesse lugar. Era lhe tão familiar e acolhedor que ela não conseguia não sentir-se como em casa, parecendo que já cá tinha esta no passado. Não, não era só isso. Era como se ela tivesse vivido cá, há muito, muito tempo atrás, em que as paredes ainda não eram tão escuras e o jardim era mais selvagem e verdejante . Suspirando perante pensamentos estranhos e certamente errados, já que era impossível ela ter cá vivido, ela começou em pensar na desculpa que teria de dizer a todos, visto que não seria nada fácil explicar-lhes o que tinha acontecido entre ela e o William na sala, sem ser necessário dizer a verdade. Ao pensar no seu nome as lágrimas voltaram, rebeldes como anteriormente, obrigando-a a curvar-se numa bola para esconder soluços irritantes. Ela já não entendia nada daquilo e sentia que as coisas só ficariam cada vez mais confusas. Não entendia as acções do William, não conseguia dormir bem uma só noite sem ter aqueles pesadelos estranhos, não sabia o que realmente queria fazer com a sua vida. “Devia era ter ficado em casa...” Surpreendida por ainda não ter pensado nisso, Alice saiu da posição de bola, sentindo os raios de sol da tarde a aquecerem-lhe a cara e a secarem as lágrimas que pararam de correr. Deliberando ainda mais um pouco em tudo, acabou por pensar na coisa que lhe fazia mais sentido. Este não era o seu mundo, era dos outros. Era de pessoas que entendiam tudo sobre magia e viviam nela todos os dias. O seu tinha ficado para trás, com os seus pais e o seu irmão, e a única coisa que lhe sobrava era voltar para onde pertencia.
-É isso! Amanha pergunto se não posso voltar! – exclamou suspirando levemente ao baixar a cabeça. – Mas, a resposta deve ser “Não”, não é?  A Miranda de certeza que vai começar por dizer várias coisas para me manter cá. Mas… Eu não quero estar cá…
Lamentando-se, ficou parada durante uns segundo, até as lágrimas secarem enquanto olhava para o quadro que aparecia se vislumbrava fora da janela. Os raios quentes e vibrantes criavam desenhos ao embater nos vidros de azulejo da pequena capela, todas a criarem cores diferentes, mas mesmo assim serenos e românticos, dando a aquele pequeno relvado uma impressão de paz e sossego a quem lá estivesse. Encantada, Alice ficou a olhar para na direcção da capela durante uns instantes até que percebeu de que alguém a olhava. Os olhos do rapaz fixados nela pareciam preocupados e queridos ao mesmo tempo. Surpreendida por alguém estar lá, Alice escorregou e caiu no chão com um ligeiro bam. Levantando-se embaraçada, ela olhou para fora da janela mais uma vez para ver quem é que era, mas já não havia lá ninguém. Indignada e preocupada, Alice dirigiu-se até a porta para ir lá abaixo, mas parou logo que ouviu passos do outro lado, correndo que nem maluca para a sua cama onde se escondeu mais uma vez no meio dos cobertores, fingindo ter adormecido. É claro que ela sabia quem ia entrar no quarto, mas na verdade, ela não queria falar com ninguém naquele momento, nem mesmo com as suas novas amigas.
Porém, elas não chegaram a entrar, chamadas para as aulas pelo toque ultimo toque do dia, deixando a rapariga ruiva sozinha em paz para organizar os seus pensamentos confusos. O problema não era o William desta vez, mas sim os seus novos amigos. Pela primeira vez, alguém a não ser os seus pais e irmão preocupavam-se verdadeiramente com ela, ao ponto de a vir visitar, ou pelo menos tentar, durante o intervalo. Eles eram diferentes do William, que só a sabia irritar, e ela não os queria deixar. A decisão de deixar a escola parecia desvanecer-se a medida que esse pensamento se infiltrava por entre a mente,ficando apenas uma pequena duvida no fundo do seu coração. Não entendendo mais nada, e ficando sem paciência para entender, Alice enterrou-se ainda mais nos cobertores.
- Mãe... Como é que quero que estejas cá. Sempre sabes o que dizer! – sussurrou por entre os lençóis, deixando mais algumas lágrimas escorrer, adormecendo logo de tanto chorar.
           Abrindo os olhos repentinamente, Alice olhou a sua volta alarmada, tentando ver por entre a escuridão, com o coração a martelar fortemente no peito e suor do medo a escorrer pelo pescoço nervoso e exposto, incapaz de pensar com clareza. “Esta tudo bem…” sussurrou, fechando os olhos com as palmas tremulas das mãos, tentando esquecer tudo o que sonhou. “Foi tudo um sonho, só um sonho…” Repetia sem sezar, como um encantamento, rezando que isso a acalma-se. Levantando-se lentamente da cama, não conseguia parar de pensar naquele pesadelo que a assombrava já quem sabe a quantos dias. Imagens assustadoras passavam na sua cabeça, sem parar, ignorando a sua tentativa de as esquecer. Corredores longos, ervas velhas e secas, caminho irregular e sujo… mas o pior era a sensação de algo a estava a perseguir. Relembrando a figura alta no meio da escuridão que tinha visto, Alice fechou os abriu os olhos fechados, dirigindo-se logo para a casa de banho de modo a lavar a cara, esperando milagres da agua fria. Talvez isso a acorda-se para a realidade. Assim que acabou, vestiu as suas roupas e saiu do quarto, esperando não acordar as suas amigas para não lhes dar uma oportunidade de perguntar o que quer que seja. Ainda não estava preparada para responder.
            Passeando pelos corredores gigantes, Alice ainda não conseguia parar de se maravilhar com a exuberância que aquele lugar tinha, apesar da falta de movimento que lhe dava um ar assustador e um pouco misterioso, parecendo-se com uma casa abandonada. Ao chegar a saída para o jardim, Alice não se conteve, saindo para apanhar um pouco da brisa fresca e gentil da manha, que lhe refrescava os pensamentos. Sentando-se num banco bem no coração do paraíso verde, ela olhou a sua volta reparando que as flores eram diferentes. Estas pareciam-se um pouco com rosa, com as suas pétalas exuberantes e encantadoras, mas a cor nunca era a mesma, mudando de segundo em segundo seguido as cores do arco-íris. Num momento era azul e, com um piscar de olhos inocente, já era vermelha. “Magia…” pensou sorrindo um pouco, não tirando os olhos daquelas flores exóticas, interrogando-se vezes e vezes sem conta porque ela estava nessa escola. Porque ainda não tinha voltado para casa? As questões não a paravam de avassalar até que um único pensamento se fixou. E porque não sair dessa escola? Já que tudo estava a correr mal, não haveria problema se ela quisesse sair. Talvez convencer a Miranda seria um problema, mas com lágrimas talvez ela cedesse.
Tomada a decisão, Alice rapidamente correu na direcção da sala dos professores, esperando encontrar a Miranda lá. Ao passar pelos corredores reparou no numero de alunos que já estavam de pé, na sua maioria com uniformes vermelhos e amarelos, combinando em sintonia como se fizessem parte do mesmo quadro. Sorrindo sem se controlar, Alice bateu com força contra alguém, caindo no chão rapidamente, não batendo com a cabeça contra o chão duro por pouco.
- Alice? – perguntou uma voz extremamente familiar.
Levantando os olhos, Alice viu os seus novos amigos Jane, Irene e Jake, o ultimo espalmando no chão tal como ela, que a olhavam surpreendidos e aliviados.
- Mas para onde é que tu desapareceste esta manha? Andamos a tua procura por toda a parte! – exclamou uma Jane muito irritada com as mãos na cintura e a expressão de mãe zangada.
Ainda um pouco atordoada, Alice olhava-os sem se mexer, não entendendo como é que ela, de entre todas as pessoas na escola, acabou por chocar com eles.
- ALICE! – gritou Jane, assustando a pobre ruiva que até deu um salto no lugar. – Acordas ou eu vou bater-te?
- Ah... Desculpa. – Alice riu-se um pouco abanando a cabeça, levantando-se de um salto  com a ajuda do Jake que lhe estendeu a mão. – Eu... estive no jardim um pouco. Levantei-me cedo e não vos querendo acordar, fui dar um volta.
- Da próxima vez que desapareceres, deixa um bilhete, esta bem? – declarou Irene com um sorriso simpático, ainda um pouco preocupada com o estado emocional da nova amiga.
- Está bem.
- Mas o que estavas a fazer lá? Podias ter ido para o bar…
            Jake olhava-a muito preocupado, lembrando-se do estado em que esta tinha estado no dia anterior.
- Não havia necessidade e tenho que admitir que precisava de pensar.
- Em que? – perguntou Jane intrigada.
- Em muita coisa. Estava uma manha linda e as flores ainda mais. Pareciam-se muito rosas, mas a sua cor variava demasiado.
- Ah... Essas. – Jake suspirou irritado, olhando-a ainda mais preocupado. – Normalmente conhecidas por "Acómito", são um pouco perigosas. Fazem com que as pessoas tomem as decisões erradas e precipitadas. Decides algo e pode acontecer que é a pior da tua vida. As vezes são utilizadas para torturas.
Olhando para o jardim de longe, suspirou a entender a razão pela qual tinha tomado aquela decisão tão precipitadamente. Afinal de contas, essa não era a solução.
- O que eu não entendo, é como sabes tanto sobre as flores? – perguntou Irene surpreendida, recebendo um olhar irritando da Jane.
- Oh, não são só flores, mas também todos os tipos de ervas.., O nosso avô deixava-lhe um montão de livros a cerca desse tema… Não consigo entender é como ele conseguia ler isso.
- Era interessante, ao contrario dos teus livros de história sobre magia.
- Pelo menos esses servem para algo! – gritou Jane, pondo-se de frente ao pé do seu irmão.
- E esses não servem?
- NÃO!
- Tu...
- Parem. – gritou Alice, olhando-os severamente. – Se vocês não se apressarem, vamos chegar atrasados.
- Umm.. pois, desculpa. – pediu Jake, baixando a cabeça um pouco, como se fosse um cãozinho.
- Sim. Desculpa. – pediu a Jane também, baixando a cabeça da mesma maneira que o irmão.
Entreolhado-se, Alice e Irene começaram a rir dos dois irmão, pois estes eram muito mais semelhantes do que tentava parecer. Confusos, os dois irmãos sorriram também, reiniciando a sua marcha para a sala de aula. “E pensar que eu queria sair da escola? Essa foi a decisão mais estúpida que poderia ter tomado. Não vou sair desta escola por nada deste mundo.” Pensou Alice, com um sorriso na cara.